Para começar bem o mês, nada como uns epigramas do ibérico Marcial. Há quem diga que nasceu a 1 de Março, cerca de 40 d.C.. Viveu em Roma e deixou 12 livros de epigramas, dos quais deixamos aqui três eloquentes exemplos:
Lamentas, Cornélio, que os meus versos
sejam pouco sérios, nada a gosto do mestre-escola.
mas livros destes, tal como o marido à mulher,
não satisfazem se não for com a pissa.
queres celebrar núpcias sem usar
as palavras que lhe pertencem?
alguém aboliria o nu nas Florálias,
e greve túnica às putas imporia?
é natural que poemas prazenteiros
não consigam dar gozo
se não provocarem certas comichões.
deixa-te portanto de rigores, absolve
o jogo e o divertimento. Não me castres,
peço-te, os meus livros.
Príapo sem colhões nunca se viu.
*
Tens um rosto a que nem as mulheres são capazes
de pôr defeito, tens um corpinho sem mácula,
e não te admira que seja tão raro desejarem-te,
para não dizer repetirem? Galla, tens um defeito
de bradar! sempre que eu meti mãos e empernámos,
a tua cona não se calou, e tu calada.
provesse aos deuses que falasses tu, não ela,
que é gorjeio que não agrada.
antes te peidasses: como diz Símaco
tem a vantagem de nos fazer rir.
mas quem ri com os peidos vaginais?
a quem não cai ali mesmo tudo ao chão?
diz qualquer coisa que abafe a palradora,
e, se és muda, aprende com ela a falar.
*
Apanhaste-me, mulher, a enrabar um rapaz,
e alto e bom som disseste que também tinhas cu.
não o dizia assim mesmo Juno ao lascivo Júpiter,
que não deixava de se deitar com Ganimedes já crescidinho?
e quando Hércules, em vez do arco, vergava Hilas
achas que Mégara não tinha nádegas?
a fugitiva Dafne fazia os ardores de Apolo:
quem lhe apagou o fogo? um rapaz espartano.
Briseida nunca se negava de costas, mas Aquiles
preferia o doce amigo.
Por isso, mulher, poupa termos masculinos
para isso que aí tens: não é cu, são duas conas.
Marcial, traduzido por Alberto Pimenta, in Telhados de Vidro, n.º7, Averno, Novembro de 2006, pp. 51-57.
Lamentas, Cornélio, que os meus versos
sejam pouco sérios, nada a gosto do mestre-escola.
mas livros destes, tal como o marido à mulher,
não satisfazem se não for com a pissa.
queres celebrar núpcias sem usar
as palavras que lhe pertencem?
alguém aboliria o nu nas Florálias,
e greve túnica às putas imporia?
é natural que poemas prazenteiros
não consigam dar gozo
se não provocarem certas comichões.
deixa-te portanto de rigores, absolve
o jogo e o divertimento. Não me castres,
peço-te, os meus livros.
Príapo sem colhões nunca se viu.
*
Tens um rosto a que nem as mulheres são capazes
de pôr defeito, tens um corpinho sem mácula,
e não te admira que seja tão raro desejarem-te,
para não dizer repetirem? Galla, tens um defeito
de bradar! sempre que eu meti mãos e empernámos,
a tua cona não se calou, e tu calada.
provesse aos deuses que falasses tu, não ela,
que é gorjeio que não agrada.
antes te peidasses: como diz Símaco
tem a vantagem de nos fazer rir.
mas quem ri com os peidos vaginais?
a quem não cai ali mesmo tudo ao chão?
diz qualquer coisa que abafe a palradora,
e, se és muda, aprende com ela a falar.
*
Apanhaste-me, mulher, a enrabar um rapaz,
e alto e bom som disseste que também tinhas cu.
não o dizia assim mesmo Juno ao lascivo Júpiter,
que não deixava de se deitar com Ganimedes já crescidinho?
e quando Hércules, em vez do arco, vergava Hilas
achas que Mégara não tinha nádegas?
a fugitiva Dafne fazia os ardores de Apolo:
quem lhe apagou o fogo? um rapaz espartano.
Briseida nunca se negava de costas, mas Aquiles
preferia o doce amigo.
Por isso, mulher, poupa termos masculinos
para isso que aí tens: não é cu, são duas conas.
Marcial, traduzido por Alberto Pimenta, in Telhados de Vidro, n.º7, Averno, Novembro de 2006, pp. 51-57.
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