quarta-feira, 31 de março de 2010

SILÊNCIO


Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.


Trad. Luís Pignatelli.







Nascido na Cidade do México a 31 de Março de 1914, Octavio Paz foi para os EUA muito novo. Seu pai era secretário de Emiliano Zapata, assassinado a 10 de Abril de 1919. De regresso ao México, o poeta estudou direito e literatura. Na Universidade conheceu Elena Delfina Garro Navarro, uma jovem bela e de modos ousados para a época. Filha de um erudito que se interessava pelo hinduísmo, Elena era coreógrafa e bailarina. Casaram em 1937, quatro anos depois da publicação do primeiro livro de Octavio Paz: Luna Silvestre. Muito pouco tempo passado sobre o casório, partiram para Espanha convidados para um Congresso Internacional de Escritores e Intelectuais Antifascistas. Por terras de Espanha, conviveram com Nicolás Guillén, Luis Cernuda, Rafael Alberti, Ernest Hemingway, Pablo Neruda, Vicente Huidobro e César Vallejo, entre outros. Estes encontros terão sido importantes para consolidar ideias políticas e ambições artísticas. Novamente no México, o casal chegou a ser detido na sequência de discussões mantidas com espanhóis apoiantes de Francisco Franco. Entre 1943 e 1945, viajaram pelos Estados Unidos, seguindo-se a Europa, onde permaneceram até 1953. A carreira diplomática permitia ao poeta estar em contacto com múltiplas culturas. Deixou-se influenciar pelo surrealismo, chateou-se com o estalinismo, trabalhou como jornalista, fundou e editou várias revistas literárias, entre as quais se destacam Taller (1938-41) e El hijo pródigo. A vida de Octavio Paz era cada vez mais a de um poeta sobretudo interessado em questões intelectuais e nos problemas da literatura, não abandonando nunca, porém, as preocupações políticas. De resto, abandonou a carreira diplomática em 1968, quando era embaixador na Índia, como forma de protesto contra o massacre de estudantes mexicanos. Mas antes desses acontecimentos, houve o divórcio de Elena Navarro ocorrido em 1959, precisamente um ano após esta ter reunido a sua obra dramática. Também dramáticos foram os tempos que se seguiram. Preocupado com a filha de ambos, Paz procurou disfarçar com inquestionável apoio as obsessões de Elena: «Yo vivo contra él, estudié contra él, hablé contra él, tuve amantes contra él, escribí contra él y defendí a los indios contra él. Escribí de política contra él, en fin, todo, todo, todo lo que soy es contra él. En la vida no tienes más que un enemigo y con eso basta. Y mi enemigo es Paz». Em 1964, Paz conheceu e casou na Índia com Marie-José Tramini. A paranóia de Elena cresceu, todas as suas intervenções iam no sentido de atingir Paz e os seus amigos intelectuais, acusando-os de conspirações junto dos movimentos estudantis. A história não terminará bem para Elena e sua filha, ambas exiladas nos EUA, na Europa, retornando ao México apenas em 1993, estando Elena já muito debilitada, para viver numa casa miserável acompanhada de 37 gatos e muitos cigarros. Após a resignação, Octavio Paz viveu com Marie-José Tramini em Paris, foi professor em Cambridge, fundou e dirigiu a revista Plural, viu a sua obra ser premiada variadíssimas vezes, contando-se entre os galardões o Prémio Nobel da Literatura. Faleceu no dia 19 de Abril de 1998, deixando vários livros de poemas e ensaios.

2 comentários:

Vitor Vicente disse...

Quem é a garota da foto? A filha ou a consorte?

hmbf disse...

Marie-José.