Fedro começa por afirmar que provêm do Amor os maiores benefícios, nomeadamente porque o amor impede os homens de praticar o mal, sob pena de ficarem mal vistos aos olhos dos seus amantes. É dele a ideia de que apenas os que amam se dispõem a morrer por outrem. Terá pensado naqueles que não se amam a si próprios? E nos outros, nos que se dispõem a matar por amor? Já Pausânias chama a atenção de Fedro para a existência de várias formas de amor, entre as quais se distinguem o amor popular (do corpo) e o amor celeste (da alma). Para este, só era digno o amor que incitasse a amar com nobreza. Obviamente que se tratava do amor celeste, pelo que, deduzindo ser Pausânias um homem de virtude, cremos nunca ter o filósofo senão dado umas quecas celestiais. Ao escutar o panegírico de Pausânias, Aristófanes ficou com soluços (eu também ficaria) e passou a palavra a Erixímaco. Este concordava com Pausânias quanto às duas espécies de amor, mas recusava-se a tomar por exclusiva dos humanos a capacidade de amar. Com uma visão panteísta do amor, Erixímaco julga que o amor se manifesta em tudo o que existe. Tudo o que existe pode ser muita coisa.
Passados os soluços, Aristófanes falou de homens, mulheres e seres andróginos. Disse que no início os homens eram arredondados, tinham quatro mãos e igual número de pernas, quatro orelhas, órgãos genitais em número de dois, etc. Só muito depois, perante a resistência de tais seres, pôs-se Zeus a cortá-los às metades. O amor é pois o encontro de um homem com a sua cara-metade, é uma aspiração ao todo. Faz sentido, embora tenha ficado por explicar se, ao encontrar a sua cara-metade, um homem é a cara-metade que a cara-metade que ele encontrou também procurava. Caso contrário, pode alguém que encontrou a sua cara-metade estar a condenar a sua cara-metade a ficar sem a cara-metade que lhe convém. Adiante. Foi então a vez de Ágaton formular o seu encómio ao amor. Que, afinal, era o mais jovem dos deuses, que nada queria com a velhice, que a sua juventude é eterna, que é sempre delicado, de compleição subtil, elegante, justo, belo, temperado e corajoso, «um poeta tão hábil que sabe, inclusive, transmitir a outros a sua arte». Enfim, Ágaton era apenas o mais jovem dos intervenientes. Chegamos a Sócrates.
O mestre socorreu-se das palavras de uma mulher de Mantineia, Diotima: o amor é um ser genial, intermediário entre o humano e o divino, nem mortal, nem imortal, no mesmo dia floresce e morre para voltar à vida. Conta Sócrates que perante esta descrição, perguntou a Diotima qual seria a utilidade do amor. «O Amor é o desejo de possuir o Bem para sempre», e porque é à imortalidade que o homem aspira através do Bem, o Amor tem igualmente em vista a imortalidade (através da geração, da perpetuação). Logo, a utilidade do amor é alcançar a imortalidade. Os cristãos não fizeram melhor. Só depois de Kant é que começámos a olhar para isto com outros olhos. Amar tendo em vista um fim não é bem amar, é ter em vista um fim. Quem ama, simplesmente ama sem outro desejo que não o de ser amado. A imortalidade é poder sentir este encontro com uma cara-metade ou com a metade de uma cara ou com a cara inteira de uma metade cara à cara-metade. A imortalidade não é a vida eterna, não se ambiciona como quem ambiciona um bom emprego. A imortalidade é apenas aquele instante momentâneo que nos leva a crer ter valido a pena estarmos vivos. Crer que valeu a pena não é o mesmo que ter valido.
Passados os soluços, Aristófanes falou de homens, mulheres e seres andróginos. Disse que no início os homens eram arredondados, tinham quatro mãos e igual número de pernas, quatro orelhas, órgãos genitais em número de dois, etc. Só muito depois, perante a resistência de tais seres, pôs-se Zeus a cortá-los às metades. O amor é pois o encontro de um homem com a sua cara-metade, é uma aspiração ao todo. Faz sentido, embora tenha ficado por explicar se, ao encontrar a sua cara-metade, um homem é a cara-metade que a cara-metade que ele encontrou também procurava. Caso contrário, pode alguém que encontrou a sua cara-metade estar a condenar a sua cara-metade a ficar sem a cara-metade que lhe convém. Adiante. Foi então a vez de Ágaton formular o seu encómio ao amor. Que, afinal, era o mais jovem dos deuses, que nada queria com a velhice, que a sua juventude é eterna, que é sempre delicado, de compleição subtil, elegante, justo, belo, temperado e corajoso, «um poeta tão hábil que sabe, inclusive, transmitir a outros a sua arte». Enfim, Ágaton era apenas o mais jovem dos intervenientes. Chegamos a Sócrates.
O mestre socorreu-se das palavras de uma mulher de Mantineia, Diotima: o amor é um ser genial, intermediário entre o humano e o divino, nem mortal, nem imortal, no mesmo dia floresce e morre para voltar à vida. Conta Sócrates que perante esta descrição, perguntou a Diotima qual seria a utilidade do amor. «O Amor é o desejo de possuir o Bem para sempre», e porque é à imortalidade que o homem aspira através do Bem, o Amor tem igualmente em vista a imortalidade (através da geração, da perpetuação). Logo, a utilidade do amor é alcançar a imortalidade. Os cristãos não fizeram melhor. Só depois de Kant é que começámos a olhar para isto com outros olhos. Amar tendo em vista um fim não é bem amar, é ter em vista um fim. Quem ama, simplesmente ama sem outro desejo que não o de ser amado. A imortalidade é poder sentir este encontro com uma cara-metade ou com a metade de uma cara ou com a cara inteira de uma metade cara à cara-metade. A imortalidade não é a vida eterna, não se ambiciona como quem ambiciona um bom emprego. A imortalidade é apenas aquele instante momentâneo que nos leva a crer ter valido a pena estarmos vivos. Crer que valeu a pena não é o mesmo que ter valido.
2 comentários:
Amar, verbo intransitivo.
Desconheço os tempos :-)
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