quinta-feira, 17 de junho de 2010
HOMEM AO MAR
Já não estou em minha casa.
Ando por Valparaíso.
Há muito que estava
A escrever poemas espantosos
E a preparar aulas espantosas.
Terminou a comédia:
Dentro de alguns minutos
Parto de bicicleta para Chillán.
Não fico nem mais um dia aqui.
Estou só à espera
Que me sequem um pouco as penas.
Se perguntarem por mim
Digam que ando pelo sul
E que não regressarei até ao mês que vem.
Digam que fui atacado pela varíola.
Atendam o telefone.
Que não ouvem o ruído do telefone?
Esse ruído maldito do telefone
Vai acabar por me enlouquecer!
Se perguntarem por mim
Podem dizer que me levaram preso.
Digam que fui a Chillán
Visitar a campa do meu pai.
Não trabalho nem mais um minuto.
Já chega o que fiz.
Que não chega tudo o que fiz?
Que diabo! Até quando
Querem que continue a fazer o ridículo?
Juro nunca mais escrever um verso.
Juro não mais resolver equações.
Acabou-se para sempre a coisa.
Bilhetes para Chillán!
Vou percorrer os lugares sagrados!
Nicanor Parra, de Versos de Salón (1962)
Versão de HMBF
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2 comentários:
Excelente!
~CC~
Também acho. Tomei algumas liberdades relativamente ao original. Afinal trata-se de uma versão. Mas gosto muito deste poema.
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