Faço chegar os meus melhores desejos,
Vou mudar o nome de algumas coisas.
A minha posição é esta:
O poeta não cumpre a sua palavra
Se não muda o nome das coisas.
Por que razão há-de o sol
Continuar a chamar-se sol?
Peço que se lhe chame Micifuz
O das botas de quarenta léguas!
Os meus sapatos parecem caixões?
Saibam que de hoje em diante
Os sapatos chamam-se caixões.
Comunique-se, anote-se e publique-se
Que os sapatos mudaram de nome:
A partir de agora chamam-se caixões.
Bom, a noite é larga,
Todo o poeta que se estime a si mesmo
Deve ter o seu próprio dicionário.
E antes que me esqueça
Ao próprio deus há que mudar o nome.
Que cada qual o chame como quiser:
Esse é um problema pessoal.
Nicanor Parra, de Versos de Salón (1962)
Versão de HMBF (também na Di Versos n.º12, embora com ligeiras alterações)
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