A mulher impossível,
A mulher de dois metros de estatura,
A senhora de mármore de Carrara
Que não fuma nem bebe,
A mulher que não quer despir-se
Por temer ficar grávida,
A intocável vestal
Que não quer ser mãe de família,
A mulher que respira pela boca,
A mulher que caminha
Virgem até à câmara nupcial
Mas que reage como um homem,
A que se desnudou por simpatia
Porque adora música clássica,
A pele vermelha que caiu,
A que só se entrega por amor,
A donzela que olha com um olho,
A que só se deixa possuir
No divã, à beira do abismo,
A que odeia os órgãos sexuais,
A que só se une com o seu cão,
A mulher adormecida
(O marido alumia-a com um fósforo),
A mulher que se entrega porque sim
Porque a solidão, porque o olvido…
A que chegou donzela à velhice,
A professora míope,
A secretária de óculos escuros,
A menina pálida de lentes
(Ela não quer nada com o falo),
Todas estas walkirias,
Todas estas matronas respeitáveis
Com seus lábios maiores e menores
Acabarão por tirar-me do sério.
Nicanor Parra, de Versos de Salón (1962)
Versão de HMBF
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