Um forasteiro entre dois grupos rivais, numa cidade fantasmagórica onde o único homem que ainda trabalha é o serralheiro: a fazer caixões à medida do freguês. Pelo meio, uma donzela raptada à família, refém do mais sórdido dos bandoleiros. Um pai e uma criança desesperados. O forasteiro joga com o baralho todo, tem jogo de anca, é calculista o suficiente para arrancar da situação o que ele julga ser mais rentável para si. Mas ao descobrir a situação da família destroçada, há algo nele que o faz mudar de táctica: um peculiar sentido da (in)justiça fundamentado nas experiências passadas, traumas por revelar mas que podemos imaginar quais sejam.
O passado condiciona-nos as acções do presente; no futuro, o presente será o nosso passado; no futuro, muito provavelmente, deixaremos de agir desta ou daquela maneira, para agirmos de outra forma qualquer, capturados pelo que estamos a viver agora mesmo. Vivemos numa permanente Guerra Fria, mas mais do que tomarmos o partido de uma das facções, agimos invariavelmente condicionados por aquele que foi o nosso passado. Daí que, antes de julgarmos um homem, importe tanto percebermos a sua história (não a presente, mas a passada).
Costuma-se dizer que o homem conquistou a sua liberdade quando aprendeu a controlar os seus instintos. Treta. É certo que os instintos mais animalescos dos bandidos sucumbem perante a implacável racionalidade do herói interpretado por Clint Eastwood, mas este não deixa de agir determinado pelo seu passado. O homem apenas seria livre se pudesse agir sem as condições que o passado lhe impõe, determinando-o inconscientemente. Ainda que procure apagá-lo, é a única coisa que o dinheiro não pode pagar: o nosso passado.
2 comentários:
Os cowboys não vivem determinados pelo passado, nem sequer têm bem um passado: os cowboys são o próprio passado a deambular sobre um cavalo, nenhum presente, nenhum futuro.
Muito obrigado pelo comentário. Cassidy é um nome muito apropriado... ;-)
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