segunda-feira, 23 de agosto de 2010

BRUNO SCHMITT BALTHAZAR

Camarada Van Zeller, já ouviu falar do jovem Bruno Schmitt Balthazar? Se não, eu digo-lhe: é um génio em terra de jumentos. Terminou o ensino secundário com 20 valores a Física e Matemática. Segundo noticia a imprensa, foi medalha de bronze nas Olimpíadas Internacionais de Física, em Zagreb, e quer prosseguir os estudos em Oxford, onde já terá sido admitido. Infelizmente, a família do Bruno não tem como suportar as despesas. O Expresso pegou no caso, a SIC foi atrás e eu fiquei com uma crise de urticária. Há pouco, ouvi a mãe do jovem dizer que escreveu para várias empresas a pedir apoio e ainda só obteve uma resposta. Negativa. Da Sonae. Não estou a ver como é que uma empresa de retalho, especializada em retalhar mão-de-obra barata, poderia responder positivamente a um apelo deste género. O Estado português, sazonal e “folcloricamente” preocupado com cérebros em fuga, parece não ter fundos que prevejam este tipo de investimento. De facto, para quê investir nos estudos do Bruno Schmitt Balthazar se depois não haverá como rentabilizá-los em Portugal? Que faria por cá um génio da física? Eis uma questão que me pôs a pensar um pouco mais do que é costume sobre distribuição de direitos, justificação de diferenças, fundamentação da igualdade, necessidades e obrigações. Pensei tanto que, ao ouvir passar um carro dos bombeiros, julguei que viesse apagar-me os neurónios em chamas. Como justificar junto dos mais desfavorecidos a existência do Estado? Assegurando-lhes vantagens, entre as quais destacaremos a igualdade de oportunidades. Se é verdade que as pessoas nascem em condições diversas, não deixa de ser aceitável que essa diversidade de condições não venha a determinar o futuro de um homem. Afinal, é também por isso que vivemos numa República e não numa Monarquia. Não obstante a República que nos calhou em sorte ser uma oligarquia nas mãos de meia dúzia de famílias que, pelo poder económico que detêm, mandam mais nos desígnios do país que os próprios governantes eleitos pelo povo. A pergunta que se me impõe é sobre a justiça ou injustiça de ver um jovem como o Bruno ficar pelo caminho porque os pais não têm condições de lhe suportar os estudos em Oxford. Será moralmente aceitável ver alguém morrer de fome enquanto nós nos empanturramos em comida? Deve tornar-se igual aquilo que nasce desigual? O que significa tornar igual? Neste caso, igualdade significa apenas proporcionar condições para que contingências económicas não prejudiquem o progresso nos estudos de um jovem que se distingue dos demais por ser excelente naquilo que a maioria dos portugueses se revela medíocre: Matemática, Física. Portanto, tudo estaria bem se este jovem tivesse nascido filho de um administrador da Sonae. Mas este jovem não nasceu filho de um administrador da Sonae. E, como se um azar não bastasse, nasceu o pobre desgraçado em Portugal. Deixando por instantes a ironia de lado, camarada Van Zeller, puxe lá da sua impagável imaginação e diga-me o que podemos nós fazer para que este cérebro não nos fuja.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pela sua opinião expressa no seu blog. É a primeira opinião que não manifesta inveja, mediocridade e dor de cotovelo. Nós somos um país perdido. Os medíocres são muito mas muito mais que as pessoas com valor. E o grande problema é que a malta que vêm atrás manifesta estes defeitos ainda com mais acuidade. Uma tristeza.