No Chile, 33 mineiros sobrevivem há vários dias a 700 metros de profundidade. Após uma derrocada, ficaram isolados debaixo de terra. Comunicam com o exterior através de dois buracos, por onde recebem alimentos, água, apoio psicológico, etc. As operações de resgate demorarão meses. Não estranho o relativo silêncio que esta história tem merecido por cá. Afinal, os homens ainda estão vivos. Logo, ainda não são notícia. Quando morrerem, a comoção tomará conta dos nossos solidários corações. Para eles, um fragmento da Descida aos Infernos:
Sempre para o centro da terra
onde os metais com sede
sonham devoradoramente
o sangue dos mineiros.
Queimando já a pele e os cabelos
nas combustões do enxofre, do granito,
desço alucinado
com pedra a ferver nos pulmões
e pedra em chamas a acender-me os gritos.
Como unhas de mercúrio fulgente
crescem-me dos olhos e dos dedos
nunca sonhados medos, nunca tanto
fulgor de lágrimas doentes.
Carlos de Oliveira, de Descida aos Infernos, in Trabalho Poético, Círculo de Leitores, Abril de 2001, p. 94.
Sempre para o centro da terra
onde os metais com sede
sonham devoradoramente
o sangue dos mineiros.
Queimando já a pele e os cabelos
nas combustões do enxofre, do granito,
desço alucinado
com pedra a ferver nos pulmões
e pedra em chamas a acender-me os gritos.
Como unhas de mercúrio fulgente
crescem-me dos olhos e dos dedos
nunca sonhados medos, nunca tanto
fulgor de lágrimas doentes.
Carlos de Oliveira, de Descida aos Infernos, in Trabalho Poético, Círculo de Leitores, Abril de 2001, p. 94.
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