sexta-feira, 27 de agosto de 2010

MINEIROS

No Chile, 33 mineiros sobrevivem há vários dias a 700 metros de profundidade. Após uma derrocada, ficaram isolados debaixo de terra. Comunicam com o exterior através de dois buracos, por onde recebem alimentos, água, apoio psicológico, etc. As operações de resgate demorarão meses. Não estranho o relativo silêncio que esta história tem merecido por cá. Afinal, os homens ainda estão vivos. Logo, ainda não são notícia. Quando morrerem, a comoção tomará conta dos nossos solidários corações. Para eles, um fragmento da Descida aos Infernos:

Sempre para o centro da terra
onde os metais com sede
sonham devoradoramente
o sangue dos mineiros.

Queimando já a pele e os cabelos
nas combustões do enxofre, do granito,
desço alucinado
com pedra a ferver nos pulmões
e pedra em chamas a acender-me os gritos.

Como unhas de mercúrio fulgente
crescem-me dos olhos e dos dedos
nunca sonhados medos, nunca tanto
fulgor de lágrimas doentes
.


Carlos de Oliveira, de Descida aos Infernos, in Trabalho Poético, Círculo de Leitores, Abril de 2001, p. 94.

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