Dirty Pretty Things tem um problema que é fatal em muitos filmes, a superficialidade com que uma grande dispersão de temas complexos se cruzam sem que daí possa retirar-se algo de verdadeiramente perturbador. Imigração ilegal, tráfico de órgãos humanos, conflitos inter-raciais, exploração de trabalho clandestino são assuntos demasiado pesados para um objecto tão frágil como o filme de Stephen Frears. Longe da comovente sobriedade de The Van, este filme apenas ganha algum interesse quando a relação entre os protagonistas, uma imigrante turca interpretada pela francesa Audrey Tautou e um imigrante nigeriano, se revela inviável não por culpa das contingências sócio-culturais das personagens mas pelo passado que persegue uma delas. Se o filme aponta constantemente para um futuro onírico dificilmente concretizável, a realidade mostra-se muito mais dura quando o presente se vê barrado pela inexorabilidade do passado. No final resta a imagem de uma Londres degradante e inóspita.
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