Camarada Van Zeller, hoje dirijo-me-lhe na qualidade de elemento pertencente a essa terrível geração que ficou classificada de rasca para a história recente do meu país. Quem for melhor que atire a primeira pedra. Talvez o Vicente, a barata tonta que assim nos rotulou para mais tarde vir declarar que entre as várias asneiras na vida que cometeu a de ser deputado pelo PS foi a maior de todas. Eu andei nas primeiras fileiras das barricadas contra a PGA, levei com um cacete nas trombas, fiz a Prova e aprendi o significado da palavra misantropo. Depois entrei no mercado de trabalho. Devo dizer que foi o pior erro que cometi na vida e estou mesmo convencido de que ser deputado do PS não teria sido pior. Trabalhei durante 10 anos a recibos verdes, cumprindo horários, marcando presença em reuniões obrigatórias, planificando acções de formação e aulas. Fi-lo na plena consciência de que estava a ser explorado, mas carregar com baldes de cimento às seis da manhã nunca me pareceu solução vantajosa. Ademais, acrescente-se que o fiz para uma instituição de caridade sem fins lucrativos. A Igreja Católica Apostólica Romana não é outra coisa. Se trabalhei para eles, ou para uma escola deles, nessas possíveis condições, foi porque eles mais não podiam proporcionar-me. E muito preocupados estavam com o meu futuro, a minha família e a estabilidade social das pessoas em geral (quando me propuseram fazer o mesmo nas instalações da CGTP as condições não eram diferentes, mas as salas eram mais frias). Pelo que sei, com o passar dos anos, a péssima gestão de um indivíduo sem escrúpulos levou a escola à falência. A ICAR, preocupada com a família da nobre criatura, encarregou-se de lhe arranjar novo pousio. Não me consta que alguma vez tenha sido incompetente a recibos verdes. Agora uma geração depois da minha, dita à rasca, o que denota progresso e evolução, pois de simplesmente rasca para comovidamente à rasca vai uma considerável melhoria, vem manifestar-se por ter licenciaturas que para nada servem, por ser precária e flexível, por andar com o pescoço pendurado à verdura dos recibos. Estou solidário com todos eles e acho que fazem muito bem em manifestar-se. Só peço que o façam longe da Rua José Tanganho, que eu ando muito sensível ao ruído e com os sonos perturbados. O mais é o que vossa excelência sabe, hoje esteve um belo feriado de trabalho. A ordenado mínimo e prestigiosa licenciatura. Valha-nos isso.
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