domingo, 3 de abril de 2011

THE HORSE WHISPERER

Voltei a apanhar The Horse Whisperer no canal Hollywood e, mais uma vez, deixei-me ficar até ao fim. O mesmo nó na garganta e a mesma comoção que só os maus filmes conseguem provocar. Aquela paisagem rural norte-americana pode ser um mito, mas é um mito muito bonito. Ao alto, num penhasco com vista para o infinito, ainda se vêem as sombras dos índios. E, com sorte, podem escutar-se as suas lamentações. Ficar ou partir? Largar tudo ou permanecer? Mudar ou ir andando? São estes os grandes dilemas da vida, pairam sobre nós como a sombra da águia voando em contracampo. O cavalo ferido − e sempre que digo cavalo lembro-me, vá lá saber-se porquê, de António Ramos Rosa − somos nós, o encantamento surge da disponibilidade e da entrega, da paz e do sossego que acalma o tremor e oferece às pernas o seu merecido descanso. Alguém lhe chama dom, julgo que é a personagem interpretada por Dianne Wiest, quando junto ao rio vai directo ao assunto e explica a Annie MacLean (Kristin Scott Thomas), olhos nos olhos, que Tom Booker (Robert Redford) tem um dom sobrenatural, embora não deixe de ser um homem. Eu acho que sei qual é esse dom, é algo apenas possível em quem descobriu o seu lugar, a sua casa, e pode aí viver numa tumultuosa paz com os seus íntimos fantasmas. Daí que Tom Booker só tenha medo de envelhecer e de começar a sentir-se unuseful. Não teme a solidão porque está em paz consigo próprio. No fundo, isso é o mais importante.

7 comentários:

JQ disse...

Mesmo sem poder acompanhar nenhum segmento da frase “O mesmo nó na garganta e a mesma comoção que só os maus filmes conseguem provocar”, gostei muito do post. Tal como com o filme, foi-me fácil estabelecer uma relação de empatia, identificação, com a “respiração” de ambos, algo assim, o que acaba por ser positivo, creio, num tempo virtual demasiado ocupado por polícias e ladrões, tiros à farta e intermináveis perseguições automóveis. E prontus, foi o que me ocorreu dizer.

D. disse...

Não temer é o grande desafio. É a grande conquista.

hmbf disse...

José Quintas, é que nem eu me identifico com aquela frase. :-) Era só uma "provocaçãozeca"-

Anónimo disse...

Sinto-me provocado

jaa disse...

Hmmmmmmm, a mim parece-me mais um mecanismo de defesa (deixa-me cá dizer mal disto antes que alguém me critique o gosto) do que uma provocação. Você não precisa disso, pá...

E eu também gosto do filme. Mas eu gosto de espaços amplos. E de imagens tipo postal ilustrado. E de cavalos. E da Kristin Scott-Thomas.

hmbf disse...

JAA, falar de mecanismos de defesa neste contexto, tendo em conta o que por aqui vou passando, é tão absurdo que só consigo aceitar a hipótese de você o fazer por mera "provocaçãozeca" :-)

jaa disse...

Não, por acaso estava a falar a sério.