segunda-feira, 9 de maio de 2011

O LEITOR





Ontem os olhos pararam n’O Leitor. O filme de Stephen Daldry, que também realizou As Horas e Billy Elliot, tem todos os ingredientes de um bom filme. De resto, nestes três filmes encontramos boas histórias, actores que garantem interpretações convincentes, argumentos cativantes, uma fotografia escrupulosa, ritmo adequado. No entanto, O Leitor sofre de uma inverosimilhança fatal. É tudo demasiado bonito para ser verdadeiro e é tudo demasiado verdadeiro para ser bonito. Nada de novo na história de um jovem que desperta para a vida através da relação com uma mulher mais velha. Que Hanna Schmitz lhe peça leituras em voz alta apenas confere uma dimensão poética ao encontro, mas o pormenor não pode deixar de ser interpretado como um subterfúgio narrativo algo inconsistente. É provável que Bernhard Schlink, professor de Filosofia do Direito e autor do livro que está na origem do filme, não tenha pretendido tanto sublinhar a relação entre Michael Berg e Hanna Schmitz como parece ter concentrado os seus esforços numa dimensão moral que acaba por escapar à película. O que temos ali, então, é um case study, um de milhares de exemplos possíveis sobre as fragilidades da Justiça. Mas quem um dia se recordar de O Leitor, não vai lembrar um estudante de Direito perseguido por conflitos morais ao descobrir que a sua primeira foda foi com uma ex-guarda do campo de concentração de Auschwitz que gostava que os meninos lhe lessem livros em voz alta. Vai lembrar um rapaz e uma mulher que se amaram para lá das contingências da vida, presentes um no outro por sinais de fumo e memórias privadas e inconfessáveis. O julgamento de Hanna Schmitz era escusado, fica a pesar sobre o amor como uma tragédia já vista. A sua condenação começa no seu analfabetismo. E a maior das penas é esse isolamento que a separa de Michael Berg, um jovem que pode pedalar sobre a palavra como o poeta montado na sua bicicleta.

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