quarta-feira, 22 de junho de 2011

TRUE GRIT (2010)


Apesar de praticamente toda a acção decorrer em território índio, o único indígena que se vê está prestes a ser enforcado. Quando se prepara para pronunciar as últimas palavras, enfiam-lhe o capuz na cabeça e calam-no para sempre. Há um outro, mas não conta, vê-se demasiado ao longe e limita-se a carregar um cadáver para fazer negócio. Na sequência desta cena, ainda pensei que o médico agasalhado com uma pele de urso, dando ares de curandeiro, fosse índio. Mas não. Surge no meio de um bosque, sob uma ligeira queda de neve, arrastando atrás de si o tal morto do qual aproveitou os dentes mas ainda pode comerciar em troco de uns cobres. É uma cena típica do humor negro que caracteriza a cinematografia dos irmãos Coen, tal como este pormenor de um território habitado por fantasmas cuja presença se afirma, sobretudo, pela sua ausência. Fantasmas são sugestões, sombras de almas desconfiadas, desapiedadas, em ruptura com o chão que o corpo que os carrega pisa. E estes corpos carregam alguns fantasmas. A vingança enquanto móbil para a acção é apenas um pretexto. Mais importante é o ménage à trois desenvolvido ao longo da narrativa. São três perspectivas diferentes da justiça, eventualmente conciliáveis, com um mesmo fim para diversos meios. Da ingenuidade e determinação da jovem que quer vingar o assassinato do pai à dureza e implacabilidade do marshall bêbado contratado para o efeito, passando pelo incipiente sentido de direito formal do ranger que os acompanha, há toda uma complexidade ética e moral que nos leva a pensar sobre os caminhos mais eficazes para a consecução da justiça. São tortuosos os caminhos que a ela levam, por vezes obrigam a amputações inesperadas e geram amiúde desencontros sem remédio.

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