domingo, 23 de outubro de 2011

PÉGASO




A minha alma foi um velho cavalo
Oferecido para venda em vinte feiras.
Ofereci-o à Igreja – os compradores
Eram homenzinhos tementes da sua aura invulgar.
Um disse: “Deixe-o estar naturalmente
Ao vento e à chuva e à fome
Do pecado que nós ficaremos com ele −
Com as palas aplicadas – a troco de nada”.

Então o homem do Estado viu
O que eu tinha trazido para venda.
Um ministro, pretendendo saber se
Um outro corpo de cavalo ajustar-se-ia à cauda
Que ele reservara por sentimento –
A relíquia da sua própria alma –
Disse: “Vou apascentá-lo no lugar do trabalho”.
Emprestei-o por uma semana ou duas
E ele regressou com problemas nos ossos,
Faminto, esgotado, em desespero.
Alimentei-o na erva à beira da estrada
Tentando pô-lo em forma para mais uma feira.

Baixei o preço. Mantive-o ao pé dos atacados
Pela pulmoeira, esparavonado ficou
E comerciantes desonestos disseram que ele
Talvez aguentasse uma temporada na terra –
Mas não para trabalhos bem pagos nas cidades.
Faria a vez de um trolha, possivelmente.
Supliquei: “Ó, fazei agora uma oferta,
Uma alma é a tragédia de um homem pobre.
Ele puxará a carroça do estrume”, disse,
“Mostra-vos atalhos para a Missa,
Ensina o saber do tempo, à noite recolhe
Dívidas perdidas da erva dos homens pobres”.
.........................................................E eles nada.

............................Onde os
Trolhas porfiam desci eu
Com o meu cavalo, a minha alma.
Gritei: “Quem me oferece meia coroa?”
Daquele regateio ruidoso
Ninguém respondeu. “Alma”, orei,
“Eu tenho-te apregoado através do mundo
Da Igreja e do Estado e dos negócios mais mesquinhos.
Mas esta noite, cabresto retirado,
Não mais continuarei a apregoar-te.
No lado sul das valas
Há o pastoreio do sol.
Não mais discutirei com o mundo…”

No momento em que eu dizia estas palavras cresceram-lhe
Asas no dorso. Agora posso montá-lo
Por todas as terras que a minha imaginação conheça
.


Patrick Kavanagh
Versão de HMBF

1 comentário:

sonia disse...

Há que se chegar à exaustão e desistência para que se manifeste o divino em nossa vida!
A entrega é isso, e é necessária para a transformação. Acho que não há outra maneira.