Camarada Van Zeller, antes que o mundo acabe, eu me enterre e vossa excelência emigre, venho desejar-lhe um santo Natal, um próspero ano novo e votos de relações sexuais incríveis. É verdade que, tendo em conta o moralismo vigente, o incrível dificilmente excederá a missionária expedição de quem pica o ponto por dever matrimonial nas graças do Senhor. A vida não é a Casa dos Segredos, ainda que o vírus da ignorância ande deveras disseminado com tiques de pesporrência. A solução para tais desmandos foi agora encontrada pelo curandeiro dos nossos males. Não necessitaremos de corno da sorte nem de rabo de coelho bravo, basta emigrar. Emigrem os professores desempregados para onde precisam deles, emigrem para África e para o Brasil, Angola é nossa e Curitiba também, mas emigrem, já agora, os auxiliares de acção educativa, os alunos e os encarregados de educação, emigrem os médicos e os enfermeiros, emigrem os precários, inflexíveis ou de borracha, emigrem os próprios emigrantes que ainda por cá andam como quem pigarreia o destino, emigre a deputada Sofia Cabral e quem se ofende com seus decotes, emigre Euclides, junte-se à deputada e pratiquem muito sexo incrível, emigre o cardeal patriarca mais todo o seu patriarcado, com criancinhas debaixo dos saiotes e benditas estrelas luzindo no céu, emigrem todos os desempregados e levem consigo um pedaço de terra nacional, de preferência bem estrumada, para que quando Passos Coelho os visite na diáspora possa sentir-lhe o cheiro arremessado contra as trombas. É a isto que cheira o país, camarada Van Zeller, um cheiro putrefacto a insolvência que nos vai arrastando sem defesa. O ânimo que nos resta não é suficiente, mas era bem merecido que ao nariz do Passos fizessem o mesmo que à fibra óptica na A22. Sempre no ataque, Figo já se antecipou na prescrição: “Quero vender tudo o que tenho em Portugal.” É assim mesmo, resta saber se haverá comprador. Os ingleses não, por certo, que sempre prescientes avançam com planos de evacuação perante a iminência do caos. Prevê-se, assim prossiga a História, não apenas o fim do mundo para 2012. Com o fim do mundo acabará o €, a União Europeia e, com sorte, o Quinto Império. Sigamos, pois, para os novos planetas habitáveis a 600 anos luz da Terra, bem longe desta triste, cinzenta, nublosa, desinspirada e desmotivante canalha que nos governa. Deixemos o passado entregue ao César das Neves, o futuro nas mãos do Miguel Relvas e partamos sem glória mas cheios de vontade atiçados pelo decote da deputada socialista e inspirados pelas mensagens do comandante Euclides. Em Kepler 22 a vida será diferente, não teremos sobre os ombros a cruz da bancarrota nem a perseguir-nos o minimalismo monocórdico do ministro das finanças, nem a politiquice de sucata que há décadas nos corrói, nem a intrujice pseudocultural que singra no poder, nem fados de mãos nos bolsos, nem sacos azuis, nem pontes aéreas para Cabo Verde, nem estripadores na reforma, nem cardiais néscios, nem nada que nos faça pensar o quão deprimente é nascer-se português.
4 comentários:
meu amigo,quanta mágoa!também a sinto,mas....é preciso calma,não devemos dar o gozo do desespero,esses Senhores não merecem isso,virá o dia,em que esta fase será apenas,uma má recordação.calminha Fialho
Credo! Como estamos todos! Mas o texto está excelente, como de costume!
E eu que sempre fui uma simples professora ordeira e obediente (?) só me apetece matá-los! A todos!
também digo que o texto é excelente e necessário, pena que seja necessário, que tudo isto esteja tão, mas tão mau. que apeteça fugir.
em todo o caso, lhe deixo votos de um Ano Novo o melhor possível, com horas incríveis, se possível. abraço,
Maria manuel
...eu que sou um eterno emigrante sem casa na terra, penso que as suas palavras dizem qualquer coisa, para além do estar bem escrito. Dizem o que não toca estas pobres almas, porque para as tocar,teriam estas que estar despertas, e não há nada que as desperte. Já pensei ir ali para a Av. da Liberdade atirar-lhes com sacos de merda...mas estes já estão acostumados ao Ferrero Rocher e ao "Âmbrosio"(no original Ambrósio- como é o motorista leva o chapéu no A)
Mas a solução passa mesmo por emigrar...porque a solução não está em emigrar mas em fazer esta cambada toda emigrar de ceroulas
com os bolsos cosidos ao olho do cu. Mas não! É muito violento...e a violência não é um cliché da educação lusitana... que até, e por acaso são muito bem educados e bem compostos. O português é outra coisa, é especial e há quem diga que é o povo escolhido pela comissão de sedimentos fecais ao serviço dos deuses.
Olhe sabe uma coisa? Até é boa ideia que emigrem, pois assim, se o fizerem vão ver que afinal só vão ter saudades do que viveram, e que esse passado é a única utopia pela qual vale a pena "lutar"(que medoooo!), e assim talvez regressem para pegar fogo à barraca...Abraços
Enviar um comentário