Camarada Van Zeller, o manuel a. domingos, comparsa das beiras que um dia se me chegou com poemas no bolso, está a comemorar dez anos, como sói dizer-se, de actividade literária. E pergunta você: que tenho eu com isso? Cale-se e ouça. Numa ânsia de arrumações, mandando para os caixotes dezenas de livros já lidos, reorganizando as estantes, vasculhando papéis velhos, deparando-me com dedicatórias inchadas da admiração e da cumplicidade de gente que hoje nem me fala, constatei que também eu comemoro, não dez, mas dezoito anos de escrita publicada. Tenho que começar a pensar em organizar a papelada para, daqui a dois anos, editar os problemas reunidos, com alguns inéditos pelo meio que logrem convencer um editor e não afastem o público por completo.
É verdade que o primeiro livro só apareceu em 1997, com direito a desatenção que só não foi geral porque uma alma caridosa do jornal Blitz fez o frete de mencionar o canhenho em indevido destaque. Mas Março de 1994 foi, para todos os efeitos, a data da estreia. Deu-se o caso em revista local, patrocinada pela edilidade da região e agências imobiliárias, com direito a crónica de página inteira, dois poemas tão péssimos que custa acreditar e mais dois, em extrema coerência com os primeiros, anunciando um livro que, felizmente, nunca viu a luz do dia. O director da publicação era o Mário Calado Pedro, entretanto apanhado pela teia dos humores à portuguesa. Eu era o director adjunto. Pois que foi na qualidade de adjunto que me estreei, camarada Van Zeller. Dos poemas não falo, estão enterrados sob o próprio enterro. Mas a crónica merece-me duas referências.
Primeiro, tem o mérito de aí ser citado o impagável A. Dasilva O.: «a política é cada vez mais um bordel onde a teoria geral do estado é estéril» (dito respigado num perfil aparecido, à época, no jornal Sete); segundo, foi rematada a prosa com uma evocação de Bocage: «é castigo do vício o próprio vício». O resto é prosa de saloio armado ao pingarelho. Seria de esperar, pois então, que passados todos estes anos algo tivesse acontecido. Nem por isso. O mais que consegui foi amealhar 350 followers num weblog onde assino «textos cultos, exigentes e incisivos» (palavra de Mexia no Atual de 09 de Julho de 2011, para que conste) que me valeram uma menção honrosa no balanço da primeira década do século XXI, levado a cabo por Eduardo Pitta na revista LER de Dezembro de 2009. Categoria.
Seja como for, dezoito anos é fruta. Pode-se argumentar que eu já devia ter juízo. A questão é que o país nunca esteve para tanto. E é mais que sabido que Bocage estava equivocado, por estas bandas a patologia compensa. Veja-se, a título de exemplo, o caso Teixeira Pinto, outro acólito de uma enorme procissão revelada pelos governos do professor Carranca. A confiar nas notícias, saiu de um Governo para um Banco (transacção costumeira), abandonou o banco com indemnização na ordem dos 10 milhões e pensão anual de 500 mil garantida até ao último dos seus dias, tendo passado de imediato à reforma em função de relatório de junta médica. Quis o destino que o enfermo, já depois de reformado, fundasse um grupo editorial, presidisse uma associação de editores e livreiros, conselhos fiscais disto e daquilo, assembleias gerais de mais não sei o quê, integrasse conselhos consultivos de A e de B e de C… Uma estafadela. Diz-se também que é defensor da liberalização das drogas. A ex-mulher o ouça.
É verdade que o primeiro livro só apareceu em 1997, com direito a desatenção que só não foi geral porque uma alma caridosa do jornal Blitz fez o frete de mencionar o canhenho em indevido destaque. Mas Março de 1994 foi, para todos os efeitos, a data da estreia. Deu-se o caso em revista local, patrocinada pela edilidade da região e agências imobiliárias, com direito a crónica de página inteira, dois poemas tão péssimos que custa acreditar e mais dois, em extrema coerência com os primeiros, anunciando um livro que, felizmente, nunca viu a luz do dia. O director da publicação era o Mário Calado Pedro, entretanto apanhado pela teia dos humores à portuguesa. Eu era o director adjunto. Pois que foi na qualidade de adjunto que me estreei, camarada Van Zeller. Dos poemas não falo, estão enterrados sob o próprio enterro. Mas a crónica merece-me duas referências.
Primeiro, tem o mérito de aí ser citado o impagável A. Dasilva O.: «a política é cada vez mais um bordel onde a teoria geral do estado é estéril» (dito respigado num perfil aparecido, à época, no jornal Sete); segundo, foi rematada a prosa com uma evocação de Bocage: «é castigo do vício o próprio vício». O resto é prosa de saloio armado ao pingarelho. Seria de esperar, pois então, que passados todos estes anos algo tivesse acontecido. Nem por isso. O mais que consegui foi amealhar 350 followers num weblog onde assino «textos cultos, exigentes e incisivos» (palavra de Mexia no Atual de 09 de Julho de 2011, para que conste) que me valeram uma menção honrosa no balanço da primeira década do século XXI, levado a cabo por Eduardo Pitta na revista LER de Dezembro de 2009. Categoria.
Seja como for, dezoito anos é fruta. Pode-se argumentar que eu já devia ter juízo. A questão é que o país nunca esteve para tanto. E é mais que sabido que Bocage estava equivocado, por estas bandas a patologia compensa. Veja-se, a título de exemplo, o caso Teixeira Pinto, outro acólito de uma enorme procissão revelada pelos governos do professor Carranca. A confiar nas notícias, saiu de um Governo para um Banco (transacção costumeira), abandonou o banco com indemnização na ordem dos 10 milhões e pensão anual de 500 mil garantida até ao último dos seus dias, tendo passado de imediato à reforma em função de relatório de junta médica. Quis o destino que o enfermo, já depois de reformado, fundasse um grupo editorial, presidisse uma associação de editores e livreiros, conselhos fiscais disto e daquilo, assembleias gerais de mais não sei o quê, integrasse conselhos consultivos de A e de B e de C… Uma estafadela. Diz-se também que é defensor da liberalização das drogas. A ex-mulher o ouça.
9 comentários:
«Cale-se e ouça.»
brilhante :)
geniais são os comentários à bola na tvi:
"é falta virtual de sapunaru"
hora aí está um novo conceito de falta, a virtual.
Sapunaru.
"who's that girl?", nas palavras da Madonna.
Ionuţ Cristian Săpunaru (born 5 April 1984 in Bucharest) is a Romanian footballer who plays for F.C. Porto in Portugal. - informa a Wikipédia.
a Wikipédia é uma boa rapariga :)
Um bocadinho para o "doentita".
...não me digam que o Sapunaru também vai para um banco quando sair do Porto ?
Nesse caso é mais provável que vá para uma case de passe.
quê? para o Sporting? não me digas!
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