terça-feira, 26 de junho de 2012

BASTA, BASTA, INFELIZES!


Queluz, Sintra. 2010.





Por cima do campo de batalha, tão formoso e alegre algumas horas antes, quando resplandeciam as baionetas ou se esgarçavam os vapores do sol matinal, estendia-se agora um nevoeiro húmido à mistura com fumo donde se desprendia um cheiro estranho e acre a salitre e a sangue. Enevoara-se o céu e uma chuva fina caía sobre os mortos, sobre os feridos, sobre aqueles homens extenuados, tomados de pânico, que principiavam a duvidar. Parecia gritar-lhes: «Basta, basta, infelizes! Cessai… Tomai tento! Que estais a fazer?»
Os soldados de ambos os exércitos, cansados e esfomeados, principiavam a perguntar-se a si próprios se valeria a pena continuarem a matar-se uns aos outros, e nos seus rostos lia-se a hesitação e em cada alma surgia esta pergunta:
«Porquê, por quem devo eu matar ou deixar-me matar? Matai, vós, a quem quiserdes; fazei o que quiserdes; por mim, não quero mais!» Ao entardecer esta ideia amadurecera em todas as almas. De um momento para o outro estes homens podiam vir a sentir horror pelo que estavam a fazer e abandonar tudo e fugir fosse para onde fosse.




Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Leão Tolstoi.