Camarada Van Zeller, não muito depois de termos ficado a saber que os deputados do PSD são os mais faltosos, eis que um governo laranja se prepara para combater a falta de assiduidade. Dos alunos, claro está, que a palavra dos deputados faz fé e a fazer fé na palavra dos deputados todas as faltas estão justificadíssimas por motivos de força maior.
Forças maiores não operam, porém, na vida dos fedelhos com inclinação para a greve. Vai daí, toca de engendrar medidas a favor da assiduidade. Como vivemos num país onde tudo o que é medida tem que arrastar uma sombra de tortura, o Ministério da Educação e Ciência achou por bem obrigar os faltosos a trabalhos a favor da comunidade, quais pequenos cadastrados reincidentes na má vida.
Os trabalhos a favor da comunidade, está mais que provado, têm vários méritos. Sobretudo junto de jovens desviados com preconceitos acerca dessa mesma comunidade. Têm o mérito, desde logo, de promover o trabalho, mormente o trabalho gracioso e solidário e compassivo. Ou seja, o mesmo tipo de conceito laboral que estes jovens irão encontrar quando procurarem penetrar no mercado de trabalho à séria.
Não satisfeito com a propaganda destes bons hábitos, prepara-se o Ministério da Educação para promover ainda uma forte censura social, cito, dos encarregados de educação dos alunos faltosos. Os maus pais de família serão alvo de merecidas sevícias, tais como reduções de apoio social à família (quais?) ou contra-ordenações. Ora aí está um bom pretexto para aplicar o mais apetecível dos castigos, a multa. O que seria de nós sem esta suprema figura do Direito?
Além de multas, poderão ainda os maus pais de família ficar sujeitos a programas de educação parental, administrados, desconfiamos, por padres e freiras, esses que sempre foram, neste país, quem melhor entendeu o conceito de família. Pelo menos à napolitana. Preparai-vos, pois, pais e mães de Portugal, trazei os vossos petizes pela trela se não pretendeis ver-vos achincalhados em plena praça pública pela comunidade de que fazeis parte integrante a bem ou a mal.
Aqui, como gostamos de ver o exemplo a ser dado pelos maiores, sugerimos que as mesmas regras sejam aplicadas aos senhores e às senhoras deputados e deputadas faltosos e faltosas. Poderão iniciar os bons serviços à comunidade já no próximo dia 16 de Junho, varrendo a porcaria que o megapiquenique do Continente deixará no Terreiro do Paço. É certo e sabido que porcos e couves foi coisa que nunca ali faltou, mas prevê-se que no próximo dia 16 aos porcos do costume venham a juntar-se suínos de quatro patas, desses para os quais, até ver, o Ministério da Educação e Ciência não ponderou nenhum programa de educação parental.
2 comentários:
Ainda bem que escreveste sobre isto. Ando (desde que li notícias sobre o mesmo assunto)com um nó na garganta que não desaparece nem por nada.
No meu quarto ano (agora oitavo) também fiquei "tapada" de faltas (acho que foi a francês, se a memória não me falha). Os meus pais nunca chegaram a saber (fui capaz de ter assinado uma ou outra justificação). Ainda não descobri onde é que isso afectou a minha vida até aos dias de hoje. Até que vem um ministro armado em endireita a ver se me põe culpas na consciência ou as coloco nos meus progenitores.
É só mais uma forma de amealhar tostões. Uma pobreza... de espírito e não só.
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