sexta-feira, 6 de julho de 2012

O VALOR DA VERGONHA NA BOCA DA MERDA




Lida a crónica de Vasco Pulido Valente no Público, pouso o jornal sobre a mesa do café e penso no que estarão a sentir os meus pais neste momento. Uma vida de trabalho, duas, uma existência sacrificada, duas, para que os filhos pudessem estudar, formar-se, ter os seus cursos. Nunca lá em casa houve o preconceito dos doutores, nunca por lá se ouviu que as licenciaturas faziam as boas pessoas ou que para se ser alguém na vida era preciso atingir-se um certo estatuto. Os meus pais têm a quarta classe, não precisaram de licenciaturas para serem alguém na vida ou para serem, que o são, pessoas exemplares. A mentalidade era outra, poder dar aos filhos o que aos pais havia sido negado: a possibilidade de aprender, outrora privilégio de famílias ricas ou relativamente bem relacionadas. O que há de insultuoso em mais este caso de licenciaturas por encomenda é a revaloração da vergonha na boca da merda, ou seja, a forma como um hipócrita consegue fazer carreira na hipocrisia passando por cima de tudo e de todos. Relvas não é apenas mais um cretino, é um sabujo que insulta o sacrifício feito por milhares de famílias para que os filhos possam estudar. Centenas de milhares de famílias a pagarem propinas, deslocações, livros, manuais, tudo o que está implicado nesse tipo de investimento que é um curso. E se ao começar o texto lembro os meus pais, agora que o termino penso em Bruno Schmitt Balthazar. Ao leitor de parca memória reencaminho-o para aqui.

2 comentários:

maria disse...

sabes o que te digo? sou uma ingénua de merda. nunca pensei que chegasse um dia a conhecer estes feitos. começo a reconhecer que o poço é mesmo muito fundo...

hmbf disse...

Nem mais uma palavra sobre este esterco. Estou farto. Se alguma coisa vier a fazer, será mesmo a doer.