Com o homem começa o invisível.
O que se diz é o que se esconde, os olhos
giram para bem longe da sua fome.
O homem enche a sua fome de poemas,
os seus poemas de sonhos de amor,
os seus sonhos de amor de coisas impossíveis,
como a eternidade ou o lugar perfeito
onde nos deitaremos a ouvir o pensamento
dos pássaros, a água que corre aflita
com medo de ser pouca no chão tanto,
com a loucura do mundo a crescer no
nosso sexo, no nosso pensamento,
com o mundo a crescer vibrante a cada instante,
por dentro de nós, em nós, por fora de nós,
sem parar, sem memória, sempre,
sem fim, sem infinito, para lá das coisas que nos vencem,
para lá do sonho, nesse lugar além de tudo quanto
pode ser dito, de tudo quanto foi dito, além da história
do que somos, da vida que vivemos, todos, incluindo os mortos,
os que ainda não nasceram, os que se vendem, por dinheiro
ou excesso de tristeza, os que acreditam na vida, na beleza,
na utilidade prática da arte, na invencibilidade do amor,
na irmandade dos homens que constroem um mundo melhor,
homens e mulheres que estão aqui, ou que porventura
chegarão amanhã, quando nós e eles formos outros,
maiores que o dia que passou, que a noite que nos guarda,
quando o invisível for mais perto do braço que nos toca,
dos olhos onde revemos a história do mundo,
deste momento onde parimos a luz
Rui Costa, in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, Prémio Daniel Faria 2005, Quasi Edições, Maio de 2005, pp. 35-36.
2 comentários:
saudades de o ler e de o saber por cá...
porra pá, caiu-me em cima
Enviar um comentário