Camarada Van Zeller, se há sector produtivo do qual nos
devemos orgulhar esse sector é o da imbecilidade. Nesta matéria, julgo ser
consensual vivermos um momento de produção excedentária. Resta-nos aprender a
retirar valor de tão vasta argumentação sem pés nem cabeça (e, já agora, sem aquele
mínimo de lógica que leve, pelo menos, a dar o chamado benefício da dúvida).
Tomem-se de exemplo as mais recentes declarações do embaixador do famigerado programa
Impulso Jovem, para quem, e passo a citar, «muitos dos que estão desempregados
estão desempregados porque, ponto número um, não querem trabalhar e, ponto
número dois, são maus a fazê-lo». Ponto número três: excluem-se destas contas
todos quantos seguiram os bons conselhos do Primeiro e zarparam na demanda de
um futuro que os livre de virem a ser apontados pelo competentíssimo Miguel. Não
nos esqueçamos de que este mestre do coaching à la carte tem no seu vasto curriculum
a oferta da fronha a um programa engendrado por um ex-Ministro trabalhador,
sério, empreendedor, competente que, por acaso, só por acaso, foi impelido a
demitir-se das suas funções dias depois de ter estado ombro a ombro com
Gonçalves a apresentar soluções para o desemprego. Que o então Ministro Relvas
tenha ficado desempregado é da ordem da chamada ironia do destino. Desconfiamos
que não será por pouco tempo, até porque Relvas, ao contrário de muitos, quer
trabalhar e é bom a fazê-lo. Tão bom, que para ele Gonçalves agiu pro bono
publico. Não fez como essa cambada de trabalhadores que exploram os
patrões batendo punho ao preço da uva-mijona. Queira Deus Nosso Senhor que
Miguel Gonçalves nunca emigre e que as suas palavras não ajudem a estimular os indicadores
das exportações. Era bom e agradável que este produto nacional ficasse apenas
entre portas, para bem de todos quantos ainda conservam vestígios de vergonha
na cara. Se chega lá fora, a argumentação de Miguel Gonçalves é capaz de
vir a motivar uma providência cautelar. Imaginamos o que perderiam milhares de
jovens que tanto têm a ganhar com a imbecilidade do Miguel. Digo isto porque se
uma das razões para o desemprego ser elevado em Portugal é as pessoas não
quererem trabalhar ou serem más a fazê-lo, admitimos que não sejam diferentes
as razões para o desemprego ser astronómico noutros países. Espanha tem já mais
de seis milhões de preguiçosos, gente que ou não quer trabalhar, porque está
ocupada a dormir a sesta, ou não sabe fazê-lo, porque só sabe dormir a sesta.
Oremos, camarada Van Zeller, para que Miguel Gonçalves aprenda rapidamente as
virtudes da sesta. Enquanto dormir não proferirá baboseiras. E assim como
assado sempre refrescará as ideias, ainda que o melhor fosse mesmo congelá-las.
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