Sou de esquerda por razões básicas. Desconfio do progresso e sou naturalmente pessimista, mas sinto-me de esquerda. Não acredito por aí além nas virtudes humanas (antes fôssemos insectos), mas ainda assim julgo-me de esquerda. Quero dizer que sou por uma distribuição equitativa da riqueza, prezo valores como os da solidariedade social, desprezo a ideia de que cada um é para o que nasce, sou por serviços públicos indispensáveis, acho que a banca devia ser nacionalizada, assim como a educação e a saúde. Apesar de reconhecer méritos vários na iniciativa privada, temo mais pelos excluídos. Ando em absoluta contradição com o pensamento, pois estou convencido de que o ser humano não foi feito para trabalhar. Trabalho muito, sinto-me traidor. A questão é: os patrões são, na sua alegre maioria, uns grandes filhos da puta, exploram até ao tutano quem podem e como podem, movidos por uma ganância, um egoísmo e uma ambição incompreensíveis. Querem crescer, crescer, crescer, para depois caírem de muito alto, julgando, talvez, que a queda lhes será mansa como o voo do milhafre. Enfim, lá terão os seus pára-quedas. Percebo que as pessoas de direita acreditem em Deus (quase invariavelmente), pois não encontro outra razão para se ser ambicioso do que acreditar numa vida eterna. Como creio apenas nesta, acho escusado ser-se ambicioso. Acho mesmo uma chatice pegada ser-se ambicioso, perder-se tempo com inutilidades que nos tornam os dias infernais. A Igreja gosta muito da direita, simpatiza com os ideais capitalistas. Isto acontece, creio, porque a Igreja é um negócio como outro qualquer. Dito isto, quero deixar claro que a esquerda portuguesa irrita-me. Acho-a patética, ao mesmo tempo que humorística. Tem sempre muita graça ver alguém dar tiros nos pés.
6 comentários:
Humberto, olhe que não, olhe que não. Mas essa é uma longa discussão, a começar por encontrar a fronteira que separará as direitas das esquerdas, e a vexata quaestio de o PS ser ou não de esquerda e por aí 'adelante'.
Cumprimentos de um leitor de esquerda, que muito aprecia este seu canto.
Henrique.
Perdão, o hmbf deu-me para o Humberto; penhorado pela grosseira ligeireza, creia-me, apesar de tal, um atento leitor.
"Eu fui criado à direita mas foge-me o corpo para a esquerda — e o que vejo por aí é o contrário". Ruy Cinatti
http://retrovisor.blogs.sapo.pt/108766.html
também gosto de ver assim a esquerda...eu, um militante com cartão e as quotas em dia...também me canso das mil e uma reuniões a que não vou, canso-me de ter pena que o meu tempo (cronológico, a minha vida) nada tenha a ver com o tempo "histórico"...mas também digo que a direita, particularmente a que não se assume como tal (liberais que se apresentam como sociais-democratas, liberais que se apresentam como socialistas, alguns destes vá lá sociais-democratas) dizia que também a direita me irrita...ainda mais...muito mais
AMSaraiva
Somos dois.
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