segunda-feira, 15 de julho de 2013

YOGA PARA PESSOAS QUE NÃO ESTÃO PARA FAZER YOGA



Autor de vários livros, o britânico Geoff Dyer (n. 1958) tem duas das suas obras traduzidas para português: o romance Jeff em Veneza, Morte em Varanasi (Civilização, 2010) – que adquiri recentemente numa feira de saldos pela módica quantia de 7€ - e este Yoga para Pessoas que não estão para Fazer Yoga (Quetzal, Maio de 2013). O título traiçoeiro pode afastar potenciais leitores, mesmo tendo em conta a exposição mediática considerável que tanto autor como obra mereceram. Utilizo o tempo pretérito porque nos dias que correm dois meses pesam toneladas de esquecimento sobre um livro. E este bem que merece ser lido. Não se trata de auto-ajuda, em sentido estrito, com o tema yoga por mote, mas antes da reunião e onze textos onde lugares geográficos distintos motivaram encontros, histórias, reflexões. Tendo sido contemplado com o W H Smith Best Travel Book Award, seria tentador arrumá-lo na estante da literatura de viagens. Se assim for, estejamos cientes de que não temos em mãos relatos de viagens convencionais. Os textos saltam de Nova Orleães para o Camboja, aterram na Indonésia e seguem para Paris, percorrem o sudeste asiático e vagabundeiam em Roma, passam férias em South Beach e dão um salto a Amesterdão, visitam a Líbia, seguem para Detroit… Esta desarrumação geográfica permite a Dyer desenvolver ambientes diversos, recorrendo tanto a memórias como a eventuais momentos de pura efabulação. O que parece estar em relevância no conjunto é a relação do homem com o espaço e como essa relação relativiza a noção que temos do tempo. Por vezes, o narrador perde-se em relatos meramente circunstanciais e humorísticos, histórias de farras, desarranjos amorosos, sexo, drogas e música electrónica. Noutras ocasiões, resvala para um estado ligeiramente meditativo (nunca cedendo a contemplações poéticas escusadas). Deixa-se deslumbrar com pormenores que compõem a paisagem, evitando, porém, o deslumbramento patético do ocidental fascinado com o exotismo de civilizações distantes. E, sobretudo, não nos faz perder tempo com descrições inúteis. Importa-lhe a história, o acontecimento que deixará marcado na memória, para sempre, a passagem pelo lugar, empenha-se mais em reconstruir a memória através do texto do que em construir um texto a partir da memória. Faz a diferença. Logo no início diz: «Quando estamos sozinhos, a escrita pode fazer-nos companhia. É também uma forma de autocompensação, uma maneira de reinventar as coisas – que nunca aconteceram» (p. 18). Ora, apesar de serem muitos os lugares mencionados, muitas as pessoas citadas, muitos os artistas e escritores referidos, este é, antes de mais, o livro de um homem recolhido na solidão da escrita, uma solidão onde a experiência adquire formas imprecisas e a história pode ser revisitada sem que nada seja realmente revivido. É essa a condição de quem se embrenha no registo do tempo a partir da rememoração de um certo espaço. Daí que num dos mais belos textos do livro, evocação de uma visita às ruínas de Léptis Magna (Líbia), Geoff Dyer afirme: «Não se ouvia o mar. Tudo se aquietara. Era isto que eu desejara: experienciar a História enquanto geografia, o tempo enquanto espaço. O vento é o sopro do tempo, apressando-o. A quietude, contudo, é como o transe do tempo parado» (p. 193, trad. João Tordo).

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