Camarada
Van Zeller, o carpido das virgens ofendidas irrita pela ingenuidade
demonstrada. Na Universidade de Verão do PSD, a mesma onde Relvas terá recebido
doutoramento honoris causa, o Primeiro voltou a arrotar indigestões provocadas
pelo Tribunal Constitucional. A inconstitucionalidade reiterada da coelheira,
levou Passos a interrogar-se sobre questões em falta. “Já
alguém se lembrou de perguntar aos 900 mil desempregados de que lhes valeu a
Constituição até hoje?”, questionou. Ele podia ter-se interrogado sobre se já
alguém se lembrou de perguntar aos portugueses de que lhes vale um Presidente
da República? Ou simplesmente de que lhes vale um Governo de relações cortadas com
a Constituição? Não. A grande dúvida do Coelho é se “Já alguém se lembrou de
perguntar aos 900 mil desempregados de que lhes valeu a Constituição até hoje?”
A questão, assim colocada, denota vários elementos positivos. Desde logo, a
possibilidade de gerar emprego. Não se faz uma pergunta destas a 900 mil
pessoas de pé para a mão, é preciso gente especializada e empreendedora, capaz
de suportar as imolações de uma tortuosa estatística. Sugiro já que exportemos
o conceito e contratemos os nossos 900 mil desempregados para irem perguntar
aos 26 milhões de desempregados da União de que lhes vale a Constituição dos
seus países. Pela primeira vez, o Primeiro manifesta alguma inteligência e
criatividade no combate a este flagelo. Afastado o fantasma dos pastéis de nata,
temos aqui um verdadeiro filão a explorar. Atacado de mixomatose, o Coelho
andou durante meses a respirar deficientemente. Demos graças ao Verão e às suas
Universidades pelo milagre da cura. Mais ainda por se mostrar Passos Coelho, finalmente, em
perfeita sintonia com o seu público, para quem a Constituição, de facto, nada
serve. Desenganem-se as virgens ofendidas. Qualquer vox populi com um mínimo de
seriedade permitirá constatar o desapego dos portugueses relativamente a uma
Constituição que lhes promete uma sociedade
livre, justa e solidária, um Estado de direito democrático, baseado na separação
e interdependência de poderes e um Estado subordinado à Constituição e fundado
na legalidade democrática, com as tarefas de promover o bem-estar e a qualidade
de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação
dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a
transformação e modernização das estruturas económicas e sociais; proteger e
valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o
ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do
território; assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e
promover a difusão internacional da língua portuguesa... (cito uma versão ainda não expurgada pelas leis do Acordo Ortográfico) Ora, vão lá perguntar aos portugueses de que lhes serve
a Constituição na hora de pagar os manuais escolares dos filhos. E perguntem
também aos bombeiros que andam a defender a natureza e o ambiente. E perguntem
aos Privilegiados e aos Donos de Portugal e, já agora, perguntem também ao
homem que tem seis mil Barbies. Pode ser que saibam responder.
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