sábado, 30 de novembro de 2013

COMO SE FAZ UM OVO ESTRELADO?

 
Em vão procurei mais informações. Frederico Lourenço refere-se a Semónides de Amorgos com a mesma imprecisão que encontramos onde quer que busquemos informação sobre o personagem. Para a história ficou a Sátira contra as Mulheres, inventário de tipos femininos onde se compara a mente da mulher a vários animais: porca, raposa, cadela, burra, doninha, égua, macaca, abelha. Espanta-me que a mosca tenha escapado, assim como a cabra ou a vaca. A formiga é dada a comparações menos depreciativas. Por outro lado, creio que só uma mulher poderia escrever estes versos acerca das congéneres. A suposta misoginia de Semónides acaba por ser uma declaração da fraqueza masculina. Leia-se a última estrofe:
 
 
(…)
Por desígnio de Zeus todas estas raças
existem e permanecem entre os homens.
Pois o maior flagelo que Zeus criou foi este:
as mulheres. Se parecem úteis a quem as tem,
a esse em especial acontece a desgraça.
Quem vive com uma mulher nunca passa
o dia inteiro bem disposto,
nem depressa escorraça a Fome de casa,
maligna inquilina, inimiga dos deuses.
Quando um homem parece estar a divertir-se
em sua casa, por vontade divina ou graça humana,
ela lá encontra com que se chatear e arma-se para a zaragata.
Pois onde há mulher, os homens nem podem
receber amistosamente um convidado em casa.
Aquela que parece mais honesta,
essa é a que comete as maiores tropelias.
O marido fica de boca aberta, enquanto
os vizinhos gozam, vendo como está enganado.
Cada homem quererá louvar a sua mulher,
mas quererá também censurar a do outro.
Até parece que não gastamos todos do mesmo!
Pois este é o maior flagelo que Zeus criou,
agrilhoando-nos com correntes inquebrantáveis,
desde o tempo em que Hades recebeu
aqueles que combateram por causa de uma mulher.
 
Não tecerei considerações sobre estes versos, que julgo, inclusive de um ponto de vista meramente estético, bastante louváveis. Onde se diz Até parece que não gastamos todos do mesmo! poderia dizer-se Até parece que não gostamos todos do mesmo! Não viria mal ao mundo por isso, já que, de facto, não gostamos todos do mesmo. E, por vezes, o que parece é.
 
Versos copiados de Poesia Grega de Álcman a Teócrito, trad. Frederico Lourenço, Livros Cotovia, Maio de 2006, pp. 25-26.

3 comentários:

Marina Tadeu disse...

Por acidentes de percurso (na lama) ainda estou para conhecer uma mulher leal à espécie adulta. Telefonei a Semónides mas foi uma voz de baixo que atendeu. “Daqui Zeus com um par de cornos. Mudai fraldas depois do sinal sonoro”.

Marina Tadeu disse...

Ou, em referência pessoana...

... Primeiro encorno, depois como

hmbf disse...

Aposto que Semónides era gaja. Mas não vou espreitar debaixo da túnica.