sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O HOSPITAL

Há um ano, apaixonei-me pela funcionalidade de uma ala
De hospital: uma fila de compartimentos quadrados,
Betão, lavatórios - o desespero de qualquer amante de arte -,
Para não falar do modo como o fulano na cama ao lado ressonava.
Mas nada o amor interdita,
O comum, o banal, podem o calor dela conhecer.
O corredor conduzia a uma escadaria e, por baixo,
Ficava a imensa aventura de um pátio com gravilha.

É isto que o amor faz às coisas: a Ponte de Rialto,
O portão principal que o peso de uma carrinha amolgou,
O assento nas traseiras de uma cabana que era um foco de luz,
Nomear estas coisas é o acto de amor e a sua promessa;
Já que nos cumpre registar o mistério do amor sem desconversar,
Resgatar do tempo o passional transitório.


Patrick Kavanagh, in Estradas Secundárias - doze poetas irlandeses, selecção, posfácio e tradução de Hugo Pinto Santos, Artefacto, Junho de 2013, p. 19. 

Sem comentários: