Dos inúmeros mitos gerados pela figura andrógena de
Marilyn Manson (nunca um nome encarnou tão eficazmente o princípio do belo
horrível), um dos que sempre mais dificuldade senti em compreender é aquele que
afirma ter o músico norte-americano removido uma costela para poder praticar
fellatio consigo próprio. Fiquei agora a entender a razão de ser de tal gesto,
derradeira prova no percurso curricular da iniciação satânica. Quem o explica, com insofismável cientificidade, é
Charles Bukowski (quem mais?) num conto justamente intitulado A ala dos malucos
a leste de Hollywood:
E, por falar em merda, sempre receei mais a prisão de
ventre do que o cancro. (Já voltamos ao Jimmy Chanfrado. Atenção, que eu já
tinha dito que escrevia assim.) Se passo um dia sem cagar, não consigo ir a
lado nenhum, nem fazer nada – fico tão desesperado quando tal me acontece que
muitas vezes tento chupar o meu próprio caralho só para desbloquear o sistema,
para pôr as coisas outra vez em movimento. E, se alguma vez tentaram chupar o
vosso próprio caralho, saberão com certeza o terrível esforço imposto na
espinha, na cervical, em todos os músculos, em tudo. Esgalha-se o menino até
ele ficar o mais comprido possível e depois dobramo-nos como um bicho metido
num instrumento de tortura, pernas bem acima da cabeça e presas ao espaldar da
cama, o olho do cu a tremelicar como um pardal moribundo sob a geada, tudo bem
dobradinho em torno da pança de cerveja, as fáscias musculares todas
estraçalhadas, e aquilo que nos dói é que não falhamos por trinta ou cinquenta
centímetros, falhamos por um terço de centímetro, a ponta da língua e a ponta
do caralho muito próximas, embora a coisa possa igualmente demorar uma
eternidade ou cinquenta quilómetros. Deus, ou quem quer que tenha sido, sabia o
que estava a fazer quando nos concebeu.
Charles Bukowski, in Histórias de loucura normal,
tradução de Vasco Gato, Editora Objectiva/Alfaguara, Outubro de 2013, pp.
46-47.
2 comentários:
Deus pôs-nos o caralho à mercê da boca, mas só por palavras.
Será por falta de fé: "Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração." - Salmos 37:4
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