segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

OBRAS NO PANTEÃO


Um dos pátrios heróis cujos ossos repousam no Panteão Nacional é Guerra Junqueiro. Como outros que tais ali mumificados, era este amigo do copo. Em noites de euforia, a pena satírica fugia-lhe para a ordinarice. Assim surgiram alguns versos, que, conta-se, a ilustre figura foi tentando rasurar enquanto e como pôde (a bem da memória futura). Mas quer sempre mais o tempo do que os homens, e aí estão, perduráveis, algumas das suas mais caricatas obscenidades:

A TORRE DE BABEL OU A PORRA DO SORIANO

Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
       Para o cantar inteiro e o cantar bem
precisava viver como Matusalém.
       Dez séculos!
                           Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem os colhões de que dão ideia vaga
as nádegas brutais do Arcebispo de Braga.

*

Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
        Mastro do Leviathan! Eminência revel!
        Estando murcho foi a Torre de Babel!
        Caralho singular! É contemplá-lo
                                                             É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
                                        O Sete-Estrelo!!
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra!
        É uma porra, arquiporra!
                                                É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!!
        É uma porra infinita, é um caralho insonte
que nas roscas outrora estrangulou Le Comte.

*

Oh, caralho imortal! Glória destes lusos!
Tu poderias suprir todos os parafusos
que esperem com vigor os cachos do Alto
                                                                   Douro!
Onde há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
       Marquês de Valadas em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
       — Nada, nada contém a porra do Soriano!!

*

Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás duma crica infinita???
— Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe há-de abrir talvez um dia um terramoto
para que desagúe, esta porra medonha,
em grossos borbotões de clerical langonha!!!

*

A porra do Soriano é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto?
        Onde é que começa?
                                        Onde é que termina
essa porra, que estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento,
porque é porra de pardal e porra de jumento??
        Porra!
                 Mil vezes porra!
                                          Porra de bruto
que é capaz de foder o Cosmos num minuto!!!



Guerra Junqueiro, in A Torre de Babel ou A Porra do Soriano seguida de As Musas, folheto da colecção contramargem, n.º 2, & etc, Novembro de 1979, pp. 9-11.

2 comentários:

marta disse...

esse sim, o Soriano, é gajo para o Panteão e de mangalho na mão, digo eu, para que ninguém duvide dos feitos lusos! sim, porque não deve haver muitos a foder o cosmos num minuto, digo eu! ahahahah, lança uma petição que eu assino já!

hmbf disse...

era uma petição à maneira