O sol das manhãs usurpa aos candeeiros toda e qualquer
utilidade, mesmo quando entre ambos se intromete o sombrio magistrado das
tempestades.
Mas até esse cede às marés no tribunal das praias.
E quando, afadigados, percorremos com os olhos as encostas do
Atlântico, percebemos que é na terra que o mar começa.
Ao largo, vagas sucessivas invadem nossos campos de batalha
com cabeleiras de espuma salgada.
O vento traz-nos o sal ao rosto, defendemo-nos com a gola
das camisolas, a lã do corpo. Avisam-nos de perigos eminentes.
Mas temerários avançamos pelos corredores do tempo. Escavados
à unha, abrem-nos o caminho de uma estranha esperança.
É aqui que a terra abre as portas ao seu Senhor, rei
universal de todos os naufrágios.
Devagar nos aproximamos da sua voz.
Para aí quase chegados calarmos o fôlego enquanto nos previne
o temor das marés.
Novamente fundo respiramos, o peso do corpo equilibrado
sobre as pedras, a rocha que trava o vento, passadeira estendida à chegada do
Senhor.
E entre dois braços de armaduras petrificadas, ele atravessa
imponente o trilho do tempo. Em terra transforma a rocha, da terra faz areia.
Para que por fim nossos olhos se curvem a seus pés, enquanto
indiferente ao gesto ele se ergue ao sol das manhãs.
2 comentários:
Gosto tanto:)
Grato. Um senhor que mete respeito, este nosso senhor.
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