Já aqui dei conta daquele que foi, muito provavelmente, o
melhor western realizado por Fritz Lang (1890-1976). Ao dizer o melhor,
pretendo apenas sublinhar essa faceta pouco conhecida do grande realizador germânico.
Antes de Rancho Notorious/O Rancho das Paixões (1952), Lang afirmou-se nos
Estados Unidos, em parte, com filmes como The Return of Frank James/O Regresso
de Frank James (1940) e o mais comercial Western Union/Conquistadores (1941). Se
o primeiro ofereceu a Henry Fonda o protagonismo, o segundo trouxe para a linha da frente aquele que terá sido, a par de John Wayne, o mais importante actor de
westerns de todos os tempos: Randolph Scott. Wayne ficou para a história como
representante do americanismo, mas não devemos esquecer que Scott só fez
praticamente westerns, trabalhou com alguns dos melhores realizadores do género, sendo
as obras com Budd Boetticher especialmente relevantes, e logrou representações absolutamente inesquecíveis. Não foram muitos os prémios, é
certo, nem bastante o reconhecimento. O mito norte-americano precisava de um
machão, não poderia encontrá-lo em Randolph Scott (a sua relação com Cary Grant
originou todo o tipo de especulações). Quem contracena com Randolph Scott em
Western Union é Dean Jagger, outro excelente actor, que veremos mais tarde em
Bad Day at Black Rock/A Conspiração do Silêncio (1955), de John Sturges
(1910-1992). São precisamente as personagens interpretadas por Randolph Scott
(o fora da lei Vance Shaw) e Dean Jagger (Edward Creighton, topógrafo da Western
Union) quem oferece o mote ao filme. No decorrer de uma fuga, Vance perde o
cavalo. Pouco depois depara-se com um homem combalido a beber água de uma poça.
Trata-se de Creighton, que se encontra gravemente ferido após uma queda. A
primeira intenção de Vance é roubá-lo e prosseguir a sua fuga, mas acaba por
ajudá-lo a recompor-se e deixa-o, posteriormente, numa pequena povoação. Mais
tarde, os dois reencontram-se e Creighton contrata Vance para uma das suas
maiores empreitadas: construir a linha de telégrafo que unirá os dois extremos
do país. Quem também fará parte da equipa será Richard Blake (Robert Young), um
indivíduo bastante refinado para aqueles ambientes mas duro como ninguém o imagina. Disputará com Vance a conquista de Sue (Virginia Gilmore), irmã de
Creighton. O título português terá ido beber a este pormenor a sua inspiração,
mas o filme de Fritz Lang em nada se reduz à luta de dois homens pela conquista
de uma mulher. Na realidade, esse aspecto acaba por ser lateral numa narrativa
onde sai muito mais evidenciada a confrontação entre o passado e o futuro. O
termo conquista, aqui, deve pois ser entendido num contexto mais abrangente,
num tempo em que o país se encontrava dividido e aqueles que procuravam uni-lo
eram travados por várias forças: do conservadorismo dos Estados Confederados à
resistência das nações índias. Seja como for, Fritz Lang em nenhum dos
seus filmes subjuga os dramas humanos pessoais e o aspecto psicológico das suas
personagens à conjuntura histórica, cultural, social, política. O seu esforço
vai no sentido de relativizar o comportamento humano, colocá-lo em
situações limite, conflituosas, que obrigam a decisões trágicas. É isso que faz
com a personagem de Vance Shaw, um fora da lei a fugir do passado (cena
inicial) na direcção de um futuro impossível de concretizar (cena final). Os obstáculos
colocados no caminho são demasiados e demasiadamente pesados, obrigam a um
esforço que é o de reconquistar a confiança dos novos aliados sem
perder o respeito dos antigos companheiros. Entre eles, o oportunista Jack
Slade (Barton MacLane), a quem Vance está ligado pelo sangue, que se faz passar
por índio para roubar cavalos a quem depois os vende, que aproveita a guerra
civil para fingir lutar por uma causa quando, na realidade, está apenas a
servir interesses pessoais, que incendeia o acampamento da Western Union contra
os apelos do irmão. Do princípio ao fim, este western de Fritz Lang não mais
faz do que acompanhar à distância a cavalgada solitária e derradeira de um
homem. Cada poste erguido pela Companhia de Telégrafos simboliza a marcha da
modernidade, a qual não poderá ser seguida por quem ficou amarrado ao
passado e dele não se consegue libertar. Na imagem: Robert Young, Fritz Lang e Randolph Scott durante as
filmagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário