quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

WESTERN UNION (1941)


aqui dei conta daquele que foi, muito provavelmente, o melhor western realizado por Fritz Lang (1890-1976). Ao dizer o melhor, pretendo apenas sublinhar essa faceta pouco conhecida do grande realizador germânico. Antes de Rancho Notorious/O Rancho das Paixões (1952), Lang afirmou-se nos Estados Unidos, em parte, com filmes como The Return of Frank James/O Regresso de Frank James (1940) e o mais comercial Western Union/Conquistadores (1941). Se o primeiro ofereceu a Henry Fonda o protagonismo, o segundo trouxe para a linha da frente aquele que terá sido, a par de John Wayne, o mais importante actor de westerns de todos os tempos: Randolph Scott. Wayne ficou para a história como representante do americanismo, mas não devemos esquecer que Scott só fez praticamente westerns, trabalhou com alguns dos melhores realizadores do género, sendo as obras com Budd Boetticher especialmente relevantes, e logrou representações absolutamente inesquecíveis. Não foram muitos os prémios, é certo, nem bastante o reconhecimento. O mito norte-americano precisava de um machão, não poderia encontrá-lo em Randolph Scott (a sua relação com Cary Grant originou todo o tipo de especulações). Quem contracena com Randolph Scott em Western Union é Dean Jagger, outro excelente actor, que veremos mais tarde em Bad Day at Black Rock/A Conspiração do Silêncio (1955), de John Sturges (1910-1992). São precisamente as personagens interpretadas por Randolph Scott (o fora da lei Vance Shaw) e Dean Jagger (Edward Creighton, topógrafo da Western Union) quem oferece o mote ao filme. No decorrer de uma fuga, Vance perde o cavalo. Pouco depois depara-se com um homem combalido a beber água de uma poça. Trata-se de Creighton, que se encontra gravemente ferido após uma queda. A primeira intenção de Vance é roubá-lo e prosseguir a sua fuga, mas acaba por ajudá-lo a recompor-se e deixa-o, posteriormente, numa pequena povoação. Mais tarde, os dois reencontram-se e Creighton contrata Vance para uma das suas maiores empreitadas: construir a linha de telégrafo que unirá os dois extremos do país. Quem também fará parte da equipa será Richard Blake (Robert Young), um indivíduo bastante refinado para aqueles ambientes mas duro como ninguém o imagina. Disputará com Vance a conquista de Sue (Virginia Gilmore), irmã de Creighton. O título português terá ido beber a este pormenor a sua inspiração, mas o filme de Fritz Lang em nada se reduz à luta de dois homens pela conquista de uma mulher. Na realidade, esse aspecto acaba por ser lateral numa narrativa onde sai muito mais evidenciada a confrontação entre o passado e o futuro. O termo conquista, aqui, deve pois ser entendido num contexto mais abrangente, num tempo em que o país se encontrava dividido e aqueles que procuravam uni-lo eram travados por várias forças: do conservadorismo dos Estados Confederados à resistência das nações índias. Seja como for, Fritz Lang em nenhum dos seus filmes subjuga os dramas humanos pessoais e o aspecto psicológico das suas personagens à conjuntura histórica, cultural, social, política. O seu esforço vai no sentido de relativizar o comportamento humano, colocá-lo em situações limite, conflituosas, que obrigam a decisões trágicas. É isso que faz com a personagem de Vance Shaw, um fora da lei a fugir do passado (cena inicial) na direcção de um futuro impossível de concretizar (cena final). Os obstáculos colocados no caminho são demasiados e demasiadamente pesados, obrigam a um esforço que é o de reconquistar a confiança dos novos aliados sem perder o respeito dos antigos companheiros. Entre eles, o oportunista Jack Slade (Barton MacLane), a quem Vance está ligado pelo sangue, que se faz passar por índio para roubar cavalos a quem depois os vende, que aproveita a guerra civil para fingir lutar por uma causa quando, na realidade, está apenas a servir interesses pessoais, que incendeia o acampamento da Western Union contra os apelos do irmão. Do princípio ao fim, este western de Fritz Lang não mais faz do que acompanhar à distância a cavalgada solitária e derradeira de um homem. Cada poste erguido pela Companhia de Telégrafos simboliza a marcha da modernidade, a qual não poderá ser seguida por quem ficou amarrado ao passado e dele não se consegue libertar. Na imagem: Robert Young, Fritz Lang e Randolph Scott durante as filmagens.

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