Ontem, no Prós & Contras, Marinho e Pinto também estava muito preocupado com a abstenção. Confrontado por João Ferreira com as posições abstencionistas que outrora defendeu, lá procurou escapar à verdade como sabe e pode: "é mentira, é mentira, é mentira. O que eu disse é que não ia votar", o que, para o caso, faz toda a diferença. Vê-se e escuta-se:
Perante isto, não me espanta os duzentos e tal mil votos
no MPT. É a tradicional legitimação da chico-espertice, que Manuel António Pina
enquadrou muito bem numa crónica de boa memória:
Tempos de calamidade como os presentes suscitam sempre o
aparecimento de demagogos e oportunistas e de projectos salvíficos de todo o
género.
Ainda o país digeria, estupefacto (ou, se calhar, não), o
modo como, apenas com a expectativa de um penacho prometedor, foi fácil encher
o vazio das ideias de "cidadania" e "participação" em torno
de que Fernando Nobre fez a campanha à Presidência da República, já estava a
pular para o palco o omnipresente bastonário dos advogados atirando-se, também
ele, a políticos e partidos e propondo uma "greve" abstencionista às
próximas eleições para os "envergonhar publicamente perante a Europa e o Mundo".
Marinho e Pinto merece a nossa compreensão, mesmo que
esgote a nossa paciência. É um "junky" de protagonismo, quando está
muito tempo longe dos holofotes entra em carência, afligem-no dores musculares
insuportáveis no sistema vocal e as palavras acumulam-se-lhe, ansiosas, na
garganta, sufocando-o e forçando-o a correr em desespero para as redacções em
busca de um "dealer" de manchetes ou, ao menos, de títulos a duas
colunas ou rodapés de noticiários televisivos para "meter para a
veia".
É um caso diferente do de Fernando Nobre. O de Marinho e
Pinto resolve-se, tudo o indica, com adequada terapia de substituição. O de
Fernando Nobre é obviamente incurável, é um cancro terminal dos valores morais;
mesmo o cargo de presidente da AR será só um paliativo.
Cargos, cargos, cargos. Fernando Nobre não teve o que
pretendia depois de se curvar ao inimigo. Esfumou-se. O advogado, por ora, está
bem serviço. Com a comunicação social a satisfazer-lhe o vício, aguardemos pela
exibição da overdose.
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