Conforme o próprio Luz de Almeida reconheceu, a estrutura
da Carbonária Portuguesa (CP) não passava de uma cópia do modelo italiano. A
unidade básica era um canteiro de cinco homens. Quatro chefes de canteiro
constituíam uma choça, quatro chefes de choça uma barraca, quatro chefes de
barraca uma venda, e, por fim, os chefes de venda elegiam uma única Alta Venda,
de três membros, que dirigia a Floresta inteira. Os membros da Sociedade
tratavam-se por primos e aos estranhos pagãos. Havia quatro categorias
hierárquicas: rachadores, carvoeiros, mestres e mestres sublimes. Só os mestres
acediam às barracas e às vendas e só os mestres sublimes à Alta Venda. Ao
contrário do que sucedia na Carbonária de Mazzini, o ritual de iniciação
decorria geralmente dentro de casa. Cinco «primos» mascarados sentavam-se a uma
mesa: os primos Presidente, Olmo, Carvalho, Choupo e Vigia. O candidato entrava
com um lenço a tapar-lhe os olhos, conduzido pelo primo Choupo. O Presidente
começava por lhe perguntar o nome, a filiação, a idade, a morada, o ofício e o
número e situação das pessoas a seu cargo. Depois inquiria da respectiva
religião e o neófito devia responder «nenhuma». A seguir, levantava-se e
interpelava-o nos seguintes e melodramáticos termos: «Estás, tu, disposto a
pegar numa arma – carabina, revólver, punhal ou bomba – e a esperar, onde quer
que seja, um tirano do povo para executares nele justiça sumária?» Se o
candidato se confessava nesta feroz disposição, pedia-se-lhe que jurasse
«guardar absoluto segredo» dos objectivos e existência da Floresta, «derramar o
seu sangue pela regeneração da Pátria» e «obedecer aos seus superiores».
Acabado o juramento, o primo Carvalho lia o severo estatuto da Sociedade, que
exortava cada carbonário a ser «astucioso, perseverante, intrépido, corajoso,
solidário, destemido e valente». Então o Presidente voltava-se para o primo
Olmo e dizia: «O que é que se faz a um traidor?» «Mata-se», prometia solenemente
o primo Olmo. «E se fugir?» «Procura-se… até que o fulmine a nossa mão
vingadora», ameaçava o primo Olmo e, ao mesmo tempo, descobria pela primeira
vez os olhos do candidato, enquanto os outros primos lhe apontavam, à cabeça e
ao peito, punhais, pistolas e machados. O Presidente tornava a prevenir o
neófito de que, se faltasse à palavra dada, a Floresta o puniria «sem dó, nem
piedade», e obrigava-o a assinar uma folha de papel em branco, onde, caso
necessário, se lavraria a sua sentença de morte. Com isto, a cerimónia
terminava e mais um autêntico carbonário se lançava ao ingente trabalho de
«regenerar a Pátria».
Vasco Pulido Valente, in O Poder e o Povo – A Revolução
de 1910, 6.ª edição, Alêtheia, Setembro de 2010, pp. 93-94.
2 comentários:
Ola, não te conheço nem sequer sei o teu nome, no entanto são varias as vezes que passo por aqui,e gosto do que leio.
Não sei se conheces a musica, mas quando ouvi/li recordou-me, o que por vezes aqui se lê...
Tanto Mão-Morta assim como os Uhf, são bandas que desde o inicio acompanho e conheço, bem espero que gostes...
como sempre esqueci-me do mais importante
http://www.youtube.com/watch?v=VYdQqWgl2C0#t=302
peço desculpa.
Mário
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