Há uma série de mitos sobre trabalhar numa livraria
que seria pedagógico desfazer, nomeadamente o da excitação perante as novidades.
Ontem abri cerca de vinte caixas carregadas de novidades. Mais porno chachada,
fantasia de cacarácácá, uma catrefa de romances com títulos tão originais tais
como Perdoa-me, livros sobre órfãos, autistas, crianças hiperactivas (está na
moda), meninos com cancro, outros que falam com Deus, outros que vão ao céu e
voltam (tema inesgotável), histórias secretas disto e daquilo e daqueloutro que
mais não fazem do que revelar o que toda a gente já sabe (estranho secretismo),
biografias de gente famosa e mediática cuja vida pública interessa tanto
conhecer como os próximos episódios de Sol de Inverno, e os livros do clube SIC
e os livros do clube RTP, que são sempre imperdíveis. O mais recente é assinado
por uma tal Ana Marques: As Minhas Gémeas – crónica de uma gravidez inesquecível.
Perante tal cenário, o entusiasmo da novidade esvai-se numa nauseante monotonia.
As livrarias estão atoladas nisto, lixo que chega às toneladas todos os dias e transforma
o cenário num carnaval de capas berrantes e títulos previsíveis.
2 comentários:
Ainda ficas sem balcão.
Mas há outros (hoje passei por uma Bertrand, vi esse das gémeas, mas ao lado tinha outro, também novidade que me pareceu interessante - por acaso no título tinha crianças, mas também tinha comboio,e se não for esse, então o do prémio Goncourt tem de ser especial).
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