O cadáver de Misty Upham foi encontrado num rio nos
arredores de Seattle. Para ser notícia, o cadáver de Misty Upham não basta. Misty
Upham, de origem indígena, é uma desconhecida. O que torna a notícia notícia é
uma aparição secundária (terciária?) da actriz no filme Django Libertado. Deste
modo, a notícia transforma-se em notícia com o título: Actriz de “Django
Libertado” encontrada morta.
A mesma mentalidade está por detrás do anúncio do último Prémio
Leya: Prémio Leya para descendente de Eça de Queiroz. Poucos quererão saber se o prémio foi atribuído a Afonso Reis Cabral, nome até agora completamente
desconhecido. Mas muitos estarão interessados em saber quem é o descendente de
Eça de Queiroz (ou Queirós, conforme as conveniências). Não é o Prémio, muito
menos o livro, que são relevantes, é a ascendência.
O efeito desta forma de apresentar notícias nota-se nas
reacções às formas do corpo de Jessica Athayde (nunca tinha ouvido falar) exibidas
num desfile de moda. A onda gerada em torno de uma barriguinha que os meus
olhos não vêem é de tal forma inusitada que me permite concluir andar o povo a
ler os livros errados e a passar ao lado dos filmes certos:
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