Como se foge para a liberdade? É problema filosófico não
meramente académico. Pressupondo a liberdade enquanto inerente ao ser(-se)
humano, não se foge para a liberdade. A própria acção de fugir admite a
existência de liberdade: a de agir ou a de não agir. Podemos até perguntar
se quem disparou sobre aquelas 136 pessoas o fez livremente, por obrigação,
coagido. Durante os tempos do Estado Novo, quantos portugueses fugiram do país?
Para a liberdade? Ou foram livres de fugir? E quantos o não fizeram? Olho este outro muro da vergonha e pergunto-me
sobre quem seja mais livre: os africanos que saltam a rede ou as pessoas que
praticam golfe? Não se foge para, foge-se de. As pessoas fogem do medo, da
miséria, da fome, da guerra. Fogem em liberdade, porque essa está na
consciência anterior à decisão que leva ao acto. Os que não fugiram não eram
livres? Os que fogem são mais livres?
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