domingo, 26 de outubro de 2014

MUROS

Como se foge para a liberdade? É problema filosófico não meramente académico. Pressupondo a liberdade enquanto inerente ao ser(-se) humano, não se foge para a liberdade. A própria acção de fugir admite a existência de liberdade: a de agir ou a de não agir. Podemos até perguntar se quem disparou sobre aquelas 136 pessoas o fez livremente, por obrigação, coagido. Durante os tempos do Estado Novo, quantos portugueses fugiram do país? Para a liberdade? Ou foram livres de fugir? E quantos o não fizeram? Olho este outro muro da  vergonha e pergunto-me sobre quem seja mais livre: os africanos que saltam a rede ou as pessoas que praticam golfe? Não se foge para, foge-se de. As pessoas fogem do medo, da miséria, da fome, da guerra. Fogem em liberdade, porque essa está na consciência anterior à decisão que leva ao acto. Os que não fugiram não eram livres? Os que fogem são mais livres?

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