sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A DESCULPA DO ALEIJADO É A MULETA

Já de madrugada, falaram-me da mítica intervenção de Pires de Lima na Assembleia da República. Fiquei incrédulo, não por depositar qualquer tipo de esperança num homem que consegue ver um bocadinho do Ronaldo em cada português (aqui), mas por julgar, na minha ingenuidade, que o tom aparvalhado do ministro já não espantaria quem quer que fosse.
É o terceiro a pedir desculpa, depois de Crato e da ministra anti-impunidade. Isto permite-nos estabelecer um padrão, este governo é o das desculpas de mau pagador. Mas enquanto o ministro, que parecia possuído por doses industriais de uma qualquer droga, garantia que tinha eliminado muitas taxinhas (sic), voltava à carga com metáforas sobre Ronaldo (é fixação), enquanto ironizava com profecias sobre António Costa num tom de adolescente estupidamente arrogante, enquanto tecia piadas de mau gosto sobre um ex-ministro, ele próprio outro fenómeno de aparvalhamento das instituições públicas, enquanto confundia a Catherine Deneuve com o Michael Phelps, enquanto exibia um ar histriónico completamente inapropriado, enquanto tudo isto e muito mais que outros se encarregarão por certo de esmiuçar ao pormenor, enquanto este ministro ministrava… mais 25 empresas fechavam no país.
É este número que os sorrisos e as piadas do palhaço não fazem esquecer: mais de 25 empresas fecham por dia em Portugal. O palhaço pode ir ao circo fazer o seu número, mas fora da tenda a vida continua. As pequenas empresas continuam a fechar, as multinacionais vão prosperando à conta de acordos fiscais secretos, dois milhões de pessoas em Portugal estão em risco de pobreza. A alegria do ministro, infelizmente, não é contagiante, apenas inflama a revolta conformista e inerte que a maioria dos portugueses expressa na popular expressão: são todos a mesma merda. O resto reflecte-se nas urnas com os níveis de abstenção que nos orgulham, nas urnas e nas ruas de Bruxelas.

2 comentários:

Joaquim Faria disse...

E será que se um potencial jihadista, colocar uma bomba no parlamento e depois pedir desculpa, estas serão aceites, como são aceites todas as desculpas que os parlamentares apresentam, Governo inclusive?

hmbf disse...

seria lamentável se uma coisa dessas acontecesse :-)