segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A LUTA CONTINUA

Li atentamente este post de mvf, com o qual não me identifico minimamente (o post, já que mvf não conheço), e pensei breves instantes sobre o assunto. Primeiro, achei piada ao tom reaccionário que a leitura de um artigo publicado em Avante gerou. Reaccionário porque reduz um programa político e o seu partido a um artigo publicado num jornal. Ao contrário do que mvf insinua, há pluralidade no seio do Partido Comunista Português. As leituras sobre o legado comunista internacional não são unívocas nem estão cristalizadas pela fé num ideal de sociedade. Muito menos podem ser reduzidas a um artigo, sendo que artigos há muitos (embora saibamos que apenas alguns interessam a quem deles pretende fazer leitura interesseira).
A leitura enviusada que mvf faz da história do comunismo enferma dos defeitos que aponta, nomeadamente quando afirma que os comunistas “fecham os olhos e apagam tudo o que se passou”. Enfim, isto é não saber absolutamente nada da história do comunismo. Já aqui tive oportunidade de dizer, e permito-me repetir, que: «Apesar de tudo, reconheça-se, o Partido Comunista foi mais célere a reconhecer o Grande Terror estalinista, pela mão de Nikita Kruschev e o seu famigerado «discurso secreto» (1956), do que a Igreja Católica Apostólica Romana a reconhecer o terror da Inquisição». Trata-se de uma evidência histórica que a muitos convém apagar e esquecer, fechando os olhos e não querendo ver. São como os três macacos quando lhes parece proveitoso para insistirem numa retórica preconceituosa, estereotipada e superficial.
É também hoje sabido como o chamado «discurso secreto» dividiu o partido, como em Portugal, por exemplo, muitos comunistas ditos históricos se foram afastando à medida que o conteúdo desse discurso foi sendo cada vez menos secreto. Já agora, não se tratando de um livro extraordinariamente bem escrito, mas sendo uma história extraordinariamente interessante, tanto para comunistas como para anticomunistas primários, secundários ou terciários, sugiro a leitura do livro Pavel – Um Homem Não se Apaga, de Edmundo Pedro. Mais que não seja pode ajudar a entender a forma como cada comunista lida com a complexidade do comunismo. Sendo que o que eu gostaria mesmo de ver e de ler era um debate sério sobre as questões aludidas no referido artigo. Podiam começar pelo último ponto: 
A chamada «queda do muro de Berlim» foi transformada pelos seus apologistas num símbolo do triunfo definitivo do capitalismo sobre o socialismo. Mas a evolução da situação internacional nos últimos 25 anos não só desmente as teses delirantes sobre o «fim da luta de classes» e sobre a «morte do comunismo», como mostram que o socialismo é mais actual e necessário do que nunca e que os trabalhadores e os povos de todo o mundo resistem e lutam para se libertar das cadeias da exploração e opressão imperialista.
 
Quanto a vítimas e infortúnios, suponho que os perpetrados pelo capitalismo vigente se contem pelos dedos. Tão poucos que nem se vêem. Perdoe-se-me a ironia, fina arma que repudio.

4 comentários:

Soledade disse...

Uma voz singular no comum vozear de bom tom, Henrique. Um abraço

jpt disse...

Obrigado pela leitura e pela ligação ao texto do nosso blog. Sobre o conteúdo da sua crítica parece-me que está algo desactualizado, não tem acompanhado alguns desenvolvimentos globais desta mudança do século/milénio e seus efeitos nas retóricas analíticas. Aceite este meu contributo, que vai sem acinte, convicto que a troca de informações permite a melhoria dos diálogos e análises: http://www.preciolandia.com/br/os-4-macacos-sabios-peca-do-cambodja-ass-74h91o-a.html

hmbf disse...

excelente jpt

há sempre mais um :-)

panaceia disse...

Muito obrigada, Henrique, por este excelente texto e análise, que muito me diz.
Abraço
Lia