Esta detestável pintura representa um velório nas margens do Jordão. Raras vezes pôde a estupidez de um pintor aludir com maior baixeza à esperança do Mundo num Messias que brilha pela ausência; ausente do quadro que o mundo é, brilha horrivelmente no obsceno bocejo do sarcófago de mármore, enquanto o anjo encarregado de proclamar a ressurreição da sua carne patibular espera impávido que os desígnios se cumpram.
Julio Cortázar, in Histórias de Cronópios e de Famas, 2.ª edição, Editorial Estampa, Fevereiro de 1999.
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