Como se não bastasse o Carnaval, temos que aturar agora o
Halloween. No Carnaval copiámos os brasileiros. A cópia fica ridícula, com
sambistas em terras de vira a exibir fio dental à chuva. É uma espécie de Carnaval
dentro do Carnaval, uma fantochada deprimente e sem sentido. Haver quem goste
não me espanta, muitas pessoas parecem gostar do Correio da Manhã, da Casa dos
Segredos e porcarias afins. Uma sociedade infantilizada também se constata nestas
opções das massas, tendo depois por efeito um clima degradante onde quem
pensa é estranho, onde quem crítica é invejoso, onde quem se preocupa é parvo. Sabem as pessoas queixar-se de políticos corruptos, maus árbitros, juízes
lentos, polícias inoperantes, hospitais inumanos, sabem queixar-se da falta de
civismo que, como sabemos, só não corrompe quem se queixa. E queixam-se dos filhos, são tão infantis! De onde pensam que
isto vem? De onde pensam que vem? Enquanto não pensam,
resolvem mascarar-se de bruxas e de mortos vivos e de fantasmas e d'outras palermices
importadas dos states. Mais uma vez, imitam tradições alheias, metem na gaveta
as suas próprias tradições, não perdem uma oportunidade para infantilizar. As lojas de adereços agradecem, o comércio agradece, o consumo
também. Quem não agradece é o pão-por-deus, ritual esquecido e perdido entre
bairros construídos em altura onde os pais temem que os filhos andem de sacola
na mão a bater de porta em porta. É uma vergonha pedir, numa sociedade rica
e abastada como a nossa é uma vergonha pedir. Pedir é mendigar, é ser pobre, é não ter
sido capaz, é ter falhado. As pessoas de sucesso não pedem, mascaram-se. Por isso se mascaram os miúdos de esqueletos e
de Monster High e d'outras merdas afins. Tem sido difícil mostrar cá em casa, sobretudo
à mais pequena, a deslocação desta fantasia que nada tem de ingénua. É uma
doença, é uma doença que se manifesta na confusão de valores com um único
objectivo: ser tudo cada vez mais igual, ser tudo cada vez menos singular, ser
tudo cada vez mais padronizado, fardado, apatetado, mascarado. Esta opção pela importação
da idiotice tem consequências, algumas já estão à vista: faltam romãs
na fruteira.
2 comentários:
Good morning, good morning, good morning. Milhões de vezes. E assim de mansinho, "bom dia meu senhor, o caminho é por aqui, ali.
bom dia
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