segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

LITERATURA DO DECOTE

 
São quase sempre norte-americanas e escrevem a metro, geralmente em séries de quatro, cinco ou mais livros a que os leitores chamam invariavelmente trilogias. Os títulos não permitem confusões: Deseja-me, Ama-me, Possui-me, Liberta-me, não necessariamente por esta ordem. Há variantes sofisticadas, do tipo Prazer Ardente, Sedução Intensa, Tentação Perfeita, Desejo Subtil . Títulos de uma subtileza sem par. E. L. James desbravou o terreno para que estas autoras de amores intensos, à maneira delas, pudessem ganhar o seu. Algemas, correntes, lençóis de cetim, saltos altos e lingerie transparente transparecem um imaginário erótico onde às velhas histórias de arrebatamentos para a eternidade se junta agora o gozo do chicote. O sadomasoquismo, na sua versão light, é a modos que uma doce tortura, um pouco como os chocolates são para os obesos. Estes livros vendem para caralho, pardon my French. Não é fenómeno que me inquiete, mas sempre vou perguntando aos meus botões sobre o que leva as pessoas a gastar dinheiro e tempo com estas coisas. O tempo e o dinheiro é delas, claro. E eu não estou em posição de censurar o que quer que seja. Mas interrogo-me. Entretenimento e distracção pastilha elástica podem ser buscados, sei lá, numa revista cor-de-rosa (agora são mais tipo fluorescentes), numa telenovela, na renda de bilros. Suponho que nestes livros se busque algo mais, talvez alimento para o sonho ou fantasias libidinosas. Porventura justificação para pecados íntimos - A vida é mesmo assim, ouço por vezes a uma leitora menos discreta. Será? A minha não é, posso garanti-lo. Nem me sinto especialmente bem por isso. E se calha apanhar sexo entre os livros ele vem por outras travessas, de Ovídio a Charles Bukowski não têm faltado opções. Confesso, porém, que o livro mais erótico que li nos últimos tempos foi o Jóquei da Matilde Campilho. Isto de ter acesso ao perfil dos autores é uma chatice, a gente deixa de ser capaz de ler a Matilde sem ter a sua imagem no pensamento. Depois dá-lhe cinco estrelas e fica com a sensação de dever cumprido. O mesmo dificilmente poderia suceder com as autoras da literatura supracita. Sem querer parecer indelicado, deixo à consideração eventuais juízos estéticos:
 
 
 
P.S.: ouvi isto agora. Retiro o que disse.

9 comentários:

Anónimo disse...

Retiras o que disseste porque a achaste feia ou porque a achaste imbecilmente ignorante e pretensiosa? Eu continuava a dar-lhe 5 estrelas em tudo o que não tivesse a ver com literatura.

hmbf disse...

Retiro o que disse porque a achei beta. E isso não me é nada erótico. Mas também porque entretanto a vi dar cabo de um poema do O'Neill: http://malomil.blogspot.pt/2014/07/na-betolandia.html .

Anónimo disse...

Esta miúda pertence à categoria dos poetas que são poetas sem nunca terem lido um livro. Basta ouvi-la perorar para perceber isso. Como é que passou o escrutínio da Tinta-da-China e, depois, de alguns críticos incautos, eis o que me espanta. Mas um caso destes, como se sabe, é sol de pouca dura. Ela que aproveite. E nós aproveitemos os seus vídeos (sem som), antes que "todo o mundo" descubra a falácia.

Anónimo disse...

Está bem para o «jornalista», que acredita que a poesia portuguesa está cheia de «inefável», ou lá o que é, e que o «real» chegou à poesia lusa com a MC. Nunca deve ter ouvido falar do tão (mal) citado «regresso ao real» e seus derivados. Aliás, toda a linha da entrevista revela uma ignorância clamorosa de tudo quanto seja poesia.

hmbf disse...

E sobre a Sylvia Day, não há nenhum anónimo com teorias?

Anónimo disse...

a Sílvia Day é alguma das quatro senhoras que ilustram a posta?

a que está a segurar o primo do óscar parece particularmente feliz!

sobre a matilde campilho... não tenho opinião, nunca li. a entrevista foi... confesso que não percebi nada do que disseram ou tentaram dizer, tanto ela como o entrevistador.

hmbf disse...

a sylvia é a do topo direito, com decote avantajado e seios explosivos.

Anónimo disse...

A questão é que os leitores deste blogue estão-se nas tintas para a Sylvia Day e para a literatura erótica de supermercado, mas interessam-se por poesia. Estou mais interessado em discutir se a ignorância da Campilho contribui ou não para lhe compor o ramalhete. Eu creio que lhe dá um ar de ingenuidade que não seria desinteressante explorar eroticamente.

R disse...

Parece-te justa, esta leitura?
Parece-me e gosto muito de a ouvir, porque esta coisa do álbum de verão… que eu gosto que comece, a coisa… tem muita coisa lá dentro. Essa coisa do morrer de amor e do viver de amor, podíamos entrar aqui numa conversa enorme sobre se não é mais ou menos a mesma coisa. Assim como o punhal não ‘tá exactamente ao lado da flor, que também aparece muitas vezes e eles não se podem transformar, às tantas, na mesma coisa. Sim, ele tem um lado muito solar. Por baixo, ele tem um lado mais escuro como a vida mesma. Eu tentei que ele fosse um bocadinho como a vida mesma. ‘Tá lá isso tam’ém.


Uma leitura justa da coisa.