domingo, 18 de janeiro de 2015

PROÍBAM-SE OS LUSÍADAS

A bem da coerência, e doutros valores cristãos que se alevantam, sugiro que se proíba, desde já, o ensino de Os Lusíadas, de Camões, nas escolas portuguesas. Mas não só. Sugiro também que se retire a obra do mercado, sob pena de ferirmos os sentimentos religiosos e mais íntimos de populações inteiras (nomeadamente as do bom Estado Islâmico). Como já aqui havia sido demonstrado, Dante cortou Maomé aos pedacinhos. Camões, o da raça lusa que celebramos em feriado nacional, não fez por menos. Vem logo no Canto I:
 
A versão ligeira na estrofe 64 (sublinhados meus):
 
Responde o valeroso Capitão
Por um que a língua escura bem sabia:
- «Dar-te-ei, Senhor ilustre, relação
De mi, da lei, das armas que trazia.
Não sou da terra, nem da geração
Das gentes enojosas da Turquia,
Mas sou da forte Europa belicosa;
Busco as terras da Índia tão famosa.
 
 
E na estrofe 99, em inegável blasfémia (sublinhados novamente meus):
 
O mesmo falso Mouro determina
Que o seguro Cristão lhe manda e pede;
Que a ilha é possuída da malina
Gente que segue o torpe Mahamede.
Aqui o engano e morte lhe imagina,
Porque em poder e forças muito excede
À Moçambique, esta ilha que se chama
Quíloa, mui conhecida pola fama.
 
Queira Deus Nosso Senhor Jesus Cristo que os sábios do Estado Islâmico não leiam Camões. Caso contrário, lá teremos que, a bem do respeito pelas convicções mais íntimas dos crentes, banir a obra da nação. Isto, ao pé de inofensivos desenhos, é dinamite etnocêntrico, islamofóbico, racista. E no Canto II lá aparece novamente o profeta, sempre adjectivado a preceito (estrofe 50):

Vereis a inexpugnábil Dio forte
Que dous cercos terá, dos vossos sendo;
Ali se mostrará seu preço e sorte,
Feitos de armas grandíssimos fazendo;
Envejoso vereis o grão Mavorte
Do Peito Lusitano fero e horrendo;
Do Mouro ali verão que a voz extrema
Do falso Mahamede ao Céu blasfema.

E vejamos como, por intermédio de Gama, nos canta Camões o puro reino. Canto III, estrofe 20:

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

Sobre as conquistas aos mouros, manda a prudência que fiquemos calados. São contas de outro rosário - «Uns caem meios mortos, e outros vão / A ajuda convocando ao Alcorão» (Canto III, estrofe 50). Há, no entanto, uma estrofe que se destaca (112). É sobre a aliança entre os Afonso de Castela e de Portugal na conquista do Reino ou Emirado nasrida de Granada:

Destarte o Mouro pérfido despreza
O poder dos Cristãos, e não entende
Que está ajudado da alta fortaleza
A quem o Inferno horrífico se rende.
Com ela o Castelhano, e com destreza,
De Marrocos o rei comete e ofende;
O Português, que tudo estima em nada,
Se faz temer ao reino de Granada.

Quanto aos meus caros leitores, nada sei. Eu, se fosse mouro, sentir-me-ia ofendido. Andar a educar as nossas criancinhas com tamanho desrespeito pela fé alheia?

4 comentários:

Cuca, a Pirata disse...

Ui, se os poetas islamólogos descobrem uma coisa dessas...
Camões estava mesmo a pedi-las...

hmbf disse...

Tem desculpa, só via de um olho.

Hugo Milhanas Machado disse...

Caso para dizer que a malta é Camões.

hmbf disse...

Ê sou Cámões.