Dês as voltas que lhe deres:
Dentro do teu coração,
As coisas são o que são,
Não aquilo que tu queres...
A fantasia modela,
Modela as formas e os seres,
Como um Deus, à feição dela!...
Tudo quanto em nós anime
A fria realidade,
Só em verdade se exprime
À luz da nossa saudade!...
Coisa, ou ser, ou criatura,
Que a vida a meus olhos traga,
Se há-de erguer àquela altura
Em que o meu sonho divaga!...
Fausto José (n. 1903 - m. 1975), in Solstício (1940). «(...) como acontecera frequentemente desde o séc. XVI, um grupo de jovens intelectuais a sair da universidade é que vai ser o veículo de consagração do modernismo. / A revista coimbrã presença (54 números, 1927-40), fundada por José Régio, Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, Fausto José e António de Navarro e de cuja direcção depois participam Casais Monteiro e Miguel Torga, é o centro desse grupo» (A. J. Saraiva, Óscar Lopes, in História da Literatura Portuguesa). «Quando estudante, acompanhou o grupo da Presença, se bem que a sua poesia não tenha grande afinidade com as tendências manifestadas pela maioria dos colaboradores dessa revista. Os seus temas preferidos são de circunstância, mas depurados pela altura do voo lírico: assuntos de história caros à sua sensibilidade poética, certo regionalismo e, por último, o culto do lar e da família» (Cabral do Nascimento, in Líricas Portuguesas).
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