Não acredito em nada do que leio nos jornais, valendo a
premissa para tudo o que leio nos jornais. Portanto, não acredito que Portugal
e Espanha tenham tentado bloquear o acordo da Grécia com o Eurogrupo. O que
tinham a ganhar com tal postura? A metáfora do cão apoiado nas patas de trás não
chega, seria necessário pensar num outro tipo de animal. Talvez o cuco, a ave
parasita que, em vez de construir o próprio ninho, deixa os ovos nos ninhos das
outras aves. Mas no caso português isto de ser cuco tem os seus contratempos. Portugal
sempre foi um cuco estúpido, desde os tempos das especiarias da Índia ao ouro do Brasil. Desta feita, deixou os ovos no ninho da águia alemã. Está visto que a águia não podia senão devorar-lhe os ovos, impedindo o desenvolvimento da espécie parasitária. Talvez
poupe o cuco e até lhe ofereça um ramo onde repousar de baixos voos. Com ministros
das Finanças transformados em animais políticos, o zoológico faz as vezes da
floresta. Os animaizinhos estão presos em gaiolas financeiras, cumprem as suas
vidas obedecendo às regras dos tratadores. Isso a que chamam troika, e que a
Wikipédia lembra ser um carro conduzido por três cavalos, mais não é do que o
banquete dos omnívoros. Alguns cucos podem aspirar à mesa do rei. Entre nós, Durão
Barroso e Vítor Gaspar são apenas dois exemplos de parasitas bem sucedidos. Já na base desta
cadeia alimentar estarão sempre insectos ignorantes como eu, que olho para o
recibo de vencimentos e para as facturas da electricidade, do gás, da água e não
percebo nada do que estou a descontar e a pagar. Mas desconfio, embora os
jornais o não expliquem, que não seja subsídios para os putativos paralíticos
da Grécia.
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