Ao misturar três tempos, ligados pela biografia do
matemático Alan Turing, o realizador norueguês Morten Tyldum corria o risco de
nos oferecer uma narrativa intrincada. Risco superado. O problema está em que,
sendo biográfico, o filme acaba por se perder num statement algo sentimentalista, e
pouco convincente, sobre a questão homossexual. Turing foi um matemático exímio
e invulgar, o típico génio da turma, introvertido, anti-social, alvo daquilo a
que hoje chamamos bullying. Pelo menos, é-nos assim apresentado enquanto adolescente. Depois de um trabalho fundamental na descodificação
dos códigos nazis, com a construção de uma máquina que, dizem os especialistas,
esteve na origem dos actuais computadores, Turing caiu em desgraça quando se
tornou pública a sua homossexualidade. À época, era crime. Sujeito a tratamento
hormonal, com consequências nefastas para a saúde, física e mental, Turing acabou
por se matar. Se não se matou (o facto é polémico), matou-o a sociedade.
A mesma para quem trabalhou arduamente salvando milhões de vidas. A sociedade livre da europa anti-nazi. Praticamente
todo o filme passa ao lado desta questão, levando-nos a ela no remate
e fazendo dela o momento mais alto de um filme repleto de picos emocionais. A
vida desta personagem fascinante acaba por ser contada com demasiada
formalidade, obedecendo a tipificações onde o feitio difícil do homem resulta
numa pobre caricatura das contradições que o atormentavam. Pessoa? Máquina? Herói? Criminoso? Duas interpretações muito boas salvam o filme do
fracasso: Benedict Cumberbatch (tem uma breve aparição em 12 Years a Slave) no
papel principal e Keira Knightley (Anna Karenina) no papel de Joan Clarke, a
mulher que Turing pediu em casamento para não perder o privilégio de trabalhar
com uma inteligência à sua altura. Preconceitos machistas e homofóbicos são o centro das atenções num filme onde o mais importante parece
estar sempre a passar-nos ao lado, a forma como o "mundo livre" trata os seus verdadeiros heróis. Resta a esperança de que César das Neves e Marinho
e Pinto vejam o filme, de preferência na companhia das respectivas famílias.
5 comentários:
vou partilhar.
Já viste?
Ainda não mas quero. Quando for a Portugal.
Recomendo esta versão com Derek Jacobi.
https://www.youtube.com/watch?v=S23yie-779k
obrigado, marina
já tinha espreitado
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