Recupero este post, com imagem ao alto, depois de escutar Paulo Rangel, o da asfixia democrática, a lamentar a falta de credibilidade do discurso de António Costa (que, diga-se de passagem, não afirmou que Portugal estava melhor, mas sim diferente).
Primeiro não havia alternativa, depois ficámos a saber
que andávamos a viver acima das nossas possibilidades, agora estamos melhor do
que estávamos em 2011. Que seria de nós sem as criaturas que fixam a realidade?
Publicam nos jornais, peroram nas televisões, opinam nas rádios, passam a vida
a ler-se uns aos outros e a comentarem dívidas soberanas, défices e orçamentos
como se tivessem lido, estudado, investigado, perscrutado todos os relatórios
sobre o estado da nação (da nossa e, por vezes, dos outros), todos os estudos e todas as estatísticas,
todas as análises. São tão industriosas, essas criaturas, são tão conhecedoras
e sábias que se torna frustrante ouvi-las e vê-las nas televisões, nos
jornais, nas rádios. Deviam estar nos ministérios, deviam estar nas
administrações das empresas, deviam estar onde se decide. Talvez não estejam
porque aí lhes faltaria tempo para ler, estudar, investigar, perscrutar,
analisar. Teriam que decidir. E decidir implica consequências sobre vidas
terceiras. Muitas dessas que os escutam opinar, perorar, troçar e ficam sem
compreender por que não há alternativa, por que andámos a viver acima das
nossas possibilidades ou por que estamos melhor do que estávamos em 2011. Justificam-se
com dados e números, estatísticas e relatórios, nada que reduza as filas no
IEFP, nada que conforte o desempregado ou console o precário. Número de
portugueses com salário mínimo triplica desde início da crise, diz o título da
notícia. Para os números, para os relatórios, talvez se trate de uma boa
notícia, uma notícia que permitirá ao político profissional afirmar que os portugueses
podem não estar melhor, mas o país está. E o Zeinal Bava também. Quem ouça e opine encontrará a lógica
e a razão de tais conclusões onde lhe aprouver. Não a encontrará no
prato vazio do indigente, nas depressões e nos suicídios que as medidas de
austeridade fomentaram, não a encontrará, por certo, nas malas de cartão dos
portugueses que abandonaram Portugal desde 2011 deixando-nos nas mãos um país
onde são mais os que partem do que os que nascem, não a encontrará nas contas bancárias de uma classe trabalhadora mal paga e asfixiada com taxas e impostos. O país está melhor, os
portugueses é que não. Estão, na generalidade, mais tristes, mais magros, mais pobres, mais desprotegidos, mais desamparados, menos saudáveis, menos cultos, menos felizes.
Mas o país há-de estar melhor, talvez o país dos néscios, dos sonsos e dos ignorantes (entre os quais se encontra o primeiro-Ministro Coelho). Porque as pessoas estão como as cidades onde residem, com os seus centros históricos desleixados, repletos de
espaços comerciais encerrados, enquanto ao largo as catedrais do
consumo a que chamam eufemisticamente shoppings vão contribuindo para as estatísticas: número de portugueses com salário mínimo triplica desde início da
crise. Tudo isto se dá e acontece debaixo do nariz de quem perora, quase
invariavelmente sem fundamentos racionais, tão-somente levado por paixões
particulares e clubismo político. Estamos melhor do que em 2011? Claro que
estamos, basta olhar para o recibo de vencimentos com as suas sobretaxas e taxas e descontos. Mais vendidos, mais frouxos, mais entretidos com as audições do BES.
Perguntem ao Zeinal Bava se não estamos melhor. Com sorte ele dirá qualquer
coisa.
P.S.: dito de outra forma, pelo Tiago Mota Saraiva: aqui.
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