Ao contrário do que possa supor-se, a nudez como forma de
protesto tem origens ancestrais. Não foram as brasas do FEMEN que lhe deram
consistência sociopolítica. Na imagem ao alto, por exemplo, dispensaram-se
slogans sobre as estrias, punhos ao alto, berreiro de megafone erguido. Também
não consta que os intervenientes tenham frequentado ginásios ou praticado dietas
light. É tudo simples e natural como as criaturas de Deus devem ser (digo eu). Olhamos para estes
Filhos da Liberdade e perguntamo-nos se não deviam ser assim todos os
protestos, se não seria muito mais autêntico ser-se Charlie de pirilau ao leu
do que envergando as fardas da hipocrisia oficial. Olhem para uns e para outros
e digam-me a quem confiariam os filhos:
Pois bem, por causa de alguns como estes sofreram outros
como aqueles. A história conta-se em trinta e seis imperdíveis minutos aqui,
mas também pode ser resumida em meia dúzia de linhas. Aqueles dois homens e
aquelas duas mulheres em pelota eram doukhobors, uma espécie de seita
religiosa, embora prefira chamar-lhes comunidade espiritual, com origem na
Rússia czarista. Na página da Wikipédia faz-se remontar as suas origens ao séc.
XVI, embora pouco exista de consistente quanto a isso. Certa é a filiação
cristã, a oposição a toda a iconografia mais ou menos ortodoxa, a rejeição de
qualquer intromissão estatal na sua forma de vida. São, por assim dizer, anarquistas
de inspiração cristã. Ou seja, são uns bacanos.
No final do séc. XIX, início do séc. XX, terão começado a
abandonar a Rússia na direcção do Canadá. Resistindo a todas as formas de
assimilação cultural, estabeleceram-se como uma espécie de aberração social.
Por outro lado, são o que de mais humano faz sentido entre a natureza selvagem.
Por não querem as suas crianças “institucionalizadas” pelo ensino
oficial, sofreram a hostilidade do governo canadiano mormente a partir da década
de 1950. Conflitos sociais emergiram, desintegrando a comunidade em facções
distintas. Ainda assim, o ritual da nudez conservou-se em todas elas quer como
celebração da união do homem, enquanto criatura divina, com a natureza, quer
como forma de protesto. Agrada-me especialmente a imagem seguinte, ritual de renovação que consiste em queimar os esforços do passado como quem sacrifica a saturação. Quem aprecie astrologia compreenderá o quão "escorpiónica" é tal imagem:
2 comentários:
Henrique, acho que o seu levante surtiu efeito o blogger desistiu da "nova política de conteúdo adulto". Ele sentiram que contra uma voz indômita o melhor é recuar.
:-) eles andam aí :-)
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