A vocação literária deste espaço não podia ser
indiferente à nudez dos escritores, os quais se despem segundo variadíssimos critérios.
Em sentido figurado, encontramos nudez onde menos a esperaríamos. Por exemplo,
nas confissões de Jean-Jacques Rousseau (que não irei citar sob pena de me
julgarem presunçoso). Se a opção pela literalidade for assumida desde logo,
nenhum escritor foi mais prolixo em nus do que o poeta norte-americano Allen
Ginsberg. Podemos contemplá-lo em postura decalcada de Robinson Crusoe ou,
porventura num estilo mais ousado, abraçado ao amor de uma vida. A fotografia
com Peter Orlovsky gerou polémica, sobretudo quando o autor de Howl pretendeu torná-la
capa de livro.
Não
tanta, porém, quanto a polémica gerada pelas imagens póstumas de Simone de
Beauvoir em ambiente doméstico e íntimo. O traseiro surpreendente de Simone perturbou
os mais fervorosos racionalistas, não sendo de todo descartável a hipótese de certos
zeladores da alvura divina terem lançado a compostura às couves enquanto redescobriam
o onanismo pelos olhos. As feministas não gostaram, talvez devessem mandar currículos
para o Blogger.
Por cá, o feminismo esboça outros semblantes. Justiça lhe
seja feita, Clara Pinto Correia não foi de modas nem de costas. Deixou-se fotografar
no momento do orgasmo - entre outros -, provocando efeitos contraditórios.
Confesso que não sendo especialmente sensível à estética Poltergeist, a ideia
de me ver espelhado no instante da ejaculação desgrenha-me. Há um mérito
qualquer neste trabalho que ainda não consegui descobrir, mas dou de barato
a ignorância. O close-up não favorece a personagem.
Mais discreto, salvo seja, o bardo valter hugo mãe não
enjeitou o ridículo ao fazer-se capa. Felizmente, não está a descabelar o
palhaço nem a atingir o ponto alto na tensão do drama. Infelizmente, a
fotografia é toda uma encenação infeliz de coisa nenhuma. Papel de parede estragado,
tectos húmidos, as divisões de uma casa abandonada, uma porta ou algo parecido
fora do lugar, e um homem nu a coçar as costas com óculos pendurados nas
orelhas. É escusado perguntarmo-nos sobre o que faz ali porque não faz nada, ao
contrário do que sucede nas imagens arriba: o primeiro pesca, os segundos
abraçam-se, a terceira arranja-se, a quarta vem-se, este posa para a fotografia.
P.S.: bem sei que não é um tríptico. As minhas desculpas
pelo entusiasmo.
8 comentários:
Sensacional. Poderias citar o Lennon...
sim, há uma foto de que gosto muito. Lennon nu e a Yoko vestida, ele em postura fetal. Vou guardá-la para um tríptico de músicos. ;-)
O pá, não!! Ninguém merece a foto do VHM....
O dia já foi mau que baste!
Apesar dos estragos, gosto do papel de parede.
Oh não! Agora estou a fazer associações mentais com mofo e assim! É mau demais...
Na porta dos fundos há um desumidificador. Tu é que não o vês. Certo que cortaram a electricidade. Mas sobre o desumidificador está um ambientador.
só tu! :)
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