quarta-feira, 13 de maio de 2015

PRÓSTATA

As metáforas do primeiro-ministro sobre a porcaria que tem andado a fazer entroncam na perfeição com a máxima do seu cão de fila, segundo a qual “a vida quotidiana das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor”. É uma linha de pensamento que guia estes cossacos de uma União Europeia mais preocupada com a saúde financeira dos mercados do que com a qualidade de vida dos seus cidadãos. Repare-se que por qualidade de vida não entendemos a vida acima das suas possibilidades que os amigos de seus amigos fazem crer ter sido a da maioria dos cidadãos, quando andaram a fugir aos impostos e a viver de ajudas de custo em empresas tão transparentes como a famigerada Tecnoforma. Pois que a vida quotidiana das pessoas não está melhor, eles o sabem. Mas quais pessoas? Os elogios recentes a Manuel Dias Loureiro, caídos da boca suja do premiér, provam que a vida de algumas pessoas estará sempre na maior. O BPN nunca existiu, e esta gente é um exemplo de salubridade que os porcos a quem o Estado foi sacar cofres cheios deviam seguir como outrora os séquitos seguiam o príncipe. A linha de pensamento é esta: a doença da crise tem de ser tratada a todo o custo, independentemente dos pacientes gostarem ou não do sabor do xarope. A que sabe o xarope deste ex-funcionário da Tecnoforma? Os danos colaterais do combate à crise são mais crise, uma crise social sem precedentes na democracia portuguesa, uma sangria estimulada pelo próprio general, gente que emigrou e que o governo quer agora ver de regresso à custa de esmolas, famílias completamente desfeitas e arruinadas, o comércio totalmente entregue aos grandes grupos que com suas promessas nunca cumpridas levam à falência milhares de empresários, cidades que mais parecem atacadas por vírus mortais, lojas fechadas, prédios devolutos, uma situação que transformou o negócio das falências e das insolvências em investimento lucrativo, danos colaterais que não tiram o sono ao guerreiro porque ele sabe ter à sua beira um amigo de seu amigo que o ajudará quando for preciso. Há sempre um Dias Loureiro à esquina, uma Tecnoforma que se inventa para esmifrar dinheiros públicos, esta gente sabe quais os circuitos do dinheiro, de onde vem, por onde anda e, sobretudo, sabe para onde vai. Pois que doce ou amargo, o xarope não resolveu nada. A doença que o cirurgião diz ter curado a toda a hora nos mostra as suas chagas, bostelas, gangrena, pus, um país ferido da cabeça aos pés, um país que já nem é país, é um terreno onde vivem pessoas que cantam o hino nacional uma vez por ano, e mal, porque não sabem a letra, um país de abstencionistas, desinteressados, gente cansada, saturada, desistente que passa os dias a sonhar com paraísos perdidos. Este merdas para quem o sabor do xarope não interessa só merece um tratamento: toque rectal com a pata de um elefante. Afinal, que importam os meios para se chegar ao fim? O que importa é prevenir a próstata.

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