As metáforas do primeiro-ministro sobre a porcaria que tem
andado a fazer entroncam na perfeição com a máxima do seu cão de fila, segundo
a qual “a vida quotidiana das pessoas não está melhor mas o país está muito
melhor”. É uma linha de pensamento que guia estes cossacos de uma União
Europeia mais preocupada com a saúde financeira dos mercados do que com a
qualidade de vida dos seus cidadãos. Repare-se que por qualidade de vida não
entendemos a vida acima das suas possibilidades que os amigos de seus amigos
fazem crer ter sido a da maioria dos cidadãos, quando andaram a fugir aos
impostos e a viver de ajudas de custo em empresas tão transparentes como a famigerada
Tecnoforma. Pois que a vida quotidiana das pessoas não está melhor, eles o
sabem. Mas quais pessoas? Os elogios recentes a Manuel Dias Loureiro, caídos da
boca suja do premiér, provam que a vida de algumas pessoas estará sempre na
maior. O BPN nunca existiu, e esta gente é um exemplo de salubridade que os
porcos a quem o Estado foi sacar cofres cheios deviam seguir como outrora os
séquitos seguiam o príncipe. A linha de pensamento é esta: a doença da crise
tem de ser tratada a todo o custo, independentemente dos pacientes gostarem ou
não do sabor do xarope. A que sabe o xarope deste ex-funcionário da Tecnoforma?
Os danos colaterais do combate à crise são mais crise, uma crise social sem
precedentes na democracia portuguesa, uma sangria estimulada pelo próprio
general, gente que emigrou e que o governo quer agora ver de regresso à custa
de esmolas, famílias completamente desfeitas e arruinadas, o comércio
totalmente entregue aos grandes grupos que com suas promessas nunca cumpridas
levam à falência milhares de empresários, cidades que mais parecem atacadas por
vírus mortais, lojas fechadas, prédios devolutos, uma situação que transformou
o negócio das falências e das insolvências em investimento lucrativo, danos
colaterais que não tiram o sono ao guerreiro porque ele sabe ter à sua beira um
amigo de seu amigo que o ajudará quando for preciso. Há sempre um Dias Loureiro
à esquina, uma Tecnoforma que se inventa para esmifrar dinheiros públicos, esta
gente sabe quais os circuitos do dinheiro, de onde vem, por onde anda e,
sobretudo, sabe para onde vai. Pois que doce ou amargo, o xarope não resolveu
nada. A doença que o cirurgião diz ter curado a toda a hora nos mostra as suas
chagas, bostelas, gangrena, pus, um país ferido da cabeça aos pés, um país que
já nem é país, é um terreno onde vivem pessoas que cantam o hino nacional uma
vez por ano, e mal, porque não sabem a letra, um país de abstencionistas,
desinteressados, gente cansada, saturada, desistente que passa os dias a sonhar
com paraísos perdidos. Este merdas para quem o sabor do xarope não interessa só
merece um tratamento: toque rectal com a pata de um elefante. Afinal, que
importam os meios para se chegar ao fim? O que importa é prevenir a próstata.
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