Pensemos na primeira vez que se fuma um cigarro ou se experimenta uma bebida mais forte: regra geral, é um amigo pouco mais velho que diz, quase em tom de segredo, que todos os adultos fazem o mesmo, oferecendo então um cigarro ou uma bebida; a reação, como seria de esperar, é de desagrado - começa-se a tossir, a cuspir o líquido, e a exclamar: «Isto é para saber bem?» Depois, a pouco e pouco, aprende-se a gostar, e torna-se mesmo um vício. (Acontece algo parecido com a Coca-Cola: quando se prova a primeira vez, percebe-se imediatamente, devido ao seu travo amargo, porque foi inicialmente apresentada ao público como remédio.) Quando se pretende, simplesmente, obter prazer direto, não se recorre a coisas como tabaco ou álcool - um sumo de fruta fresco ou uma bebida de chocolate funcionam melhor. Não se passará exatamente o mesmo com o sexo? Uma coisa diretamente prazerosa será, talvez, o agarrar ritmado de uma parte nossa, talvez a masturbação e, definitivamente, não o esforço complexo de um ato completo de copulação que, uma vez mais, tem de ser aprendido.
Slavoj Žižek, in Problemas no Paraíso - O Comunismo
depois do Fim da História, trad. C. Santos, Bertrand Editora, Setembro de 2015,
p. 102. Um livro sobre os vícios do capitalismo.
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